Para entender o que se passa na Venezuela, contatamos um dos brasileiros que mais conhece o setor militar daquele país. Trata-se do vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva. Muita gente não sabe que ele foi adido militar do Brasil em Caracas.
Traduzindo: adidos militares são elementos-chave de um país na relação com militares de outra nação. Mourão conhece muitos dos 2 mil generais venezuelanos. Sim, você leu direito: Nicolás Maduro, para se manter no poder, promoveu milhares de coronéis ao posto máximo da hierarquia nas Forças Armadas. Para se ter uma ideia da extravagância desse número, o Brasil tem, no máximo, 300 generais, diante da população de 200 milhões de habitantes. Ou seja, os brasileiros somam sete vezes mais que os venezuelanos, mas têm sete vezes menos generais.
Generais, como se sabe, são os que comandam as divisões e brigadas que formam a espinha dorsal dos exércitos. Ou seja, a maioria dos comandantes está fechada com Maduro. Por conhecer essa situação, o general Mourão tem dúvidas sobre a capacidade de Juan Guaidó, o autoproclamado presidente venezuelano, de vencer a parada que comprou nesta terça-feira (30), ao insuflar rebelião nas Forças Armadas do seu país.
— Guaidó jogou uma cartada decisiva. Não temos indícios de que tenha um maior apoio militar. É grande a possibilidade de confronto. E o Brasil anseia por uma saída pacífica — ponderou o vice-presidente.
A verdade é que o staff militar brasileiro teme um banho de sangue na Venezuela, opondo de um lado a massa de militares subalternos — insuflada por Guaidó — e, de outro, generais, coronéis das Forças Armadas e também as milícias chavistas-maduristas, que apoiam o governo de Nicolás Maduro. Caso a rebelião popular fracasse, a perspectiva mais otimista é de que ocorra prisão em massa de opositores.