O ex-deputado federal Eduardo Cunha, mesmo preso pela Lava-Jato, recebia mesada dos donos dos frigoríficos JBS. Por que? Ele próprio deu a resposta, em um de seus recados cifrados ao Ministério Publico Federal (MPF): se a JBS fizer delação, cai a República. Pelo jeito, resolveu cobrar pelo seu silêncio.
E parte dessa república operava por meio de Cunha. Nos inquéritos criminais que responde, ele atua tanto como corrupto – abrindo portas governamentais para magnatas privados como Joesley Batista, um dos donos do JBS – quanto como corruptor. Procuradores da República ouvidos por Zero Hora trabalham com o informe de que Cunha redistribuiu verbas públicas e privadas para 150 deputados e pelo menos dois senadores. Um segredo que mantém guardado em sua cela em Curitiba.
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Cunha controlava não apenas parlamentares, mas membros do Executivo federal. Em um dos inquéritos da Polícia Federal (PF), a Operação Cui Bono ("a quem interessa?", em latim), o ex-presidente da Câmara dos Deputados e o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (ambos do PMDB) trocam e-mails combinando como conseguir na Caixa Econômica Federal liberação de empréstimos para grupos econômicos aliados. O frigorifico JBS seria beneficiado com financiamento de R$ 350 milhões. O contato de Cunha era Fabio Cleto, por ele indicado para a vice-presidência da Caixa. Já Geddel tentaria acertar as pontas com o presidente Michel Temer, de quem era colaborador direto.
Cunha também guarda segredos do PMDB do Rio de Janeiro, seu estado natal. Ele está denunciado por cobrar propina em contratos das obras do Porto Maravilha, modernização do Cais Valongo – foi delatado pela construtora Carioca Engenharia. O ex-deputado pode – se quiser – falar do envolvimento do ex-governador Sergio Cabral e do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (ambos também do PMDB) no recebimento de suborno, pelo qual ambos são investigados.
Cunha parece ter preferido o caminho das ameaças oblíquas: jamais negociou delação a sério.
– Só fez barulho. Na hora de confirmar nomes e números, calou – descreve um procurador da República que acompanhou as sondagens.