Acho que quando comecei na profissão, nos anos 80 do século XX, já existia a Gangue das Gordas. Era assim chamada pelos policiais não por preconceito, mas porque as mulheres que integravam o grupo entravam nas lojas, vestiam roupas uma sobre as outras e saíam inchadas de vestuário furtado. "Gordas", mas apenas nos casacos levados furtivamente.
Ganharam fama numa época em que furto era notícia. Não só pela tática - passar-se por cliente das lojas de departamentos - mas pelo fato de ficarem pouco tempo presas. Algumas já acumulavam dezenas de detenções feitas pela Brigada Militar, flagrantes que rendiam algumas horas numa delegacia, sendo dispensadas pelo juiz por não terem agido com violência...Esse conceito, de que o furto não deve resultar em presídio fechado, está previsto no Código Penal, mesmo que a população não se conforme. As grades são reservadas, via de regra, para quem age com violência.
O problema é que algumas dessas ladras profissionais viraram assaltantes. Passaram a agredir vítimas, por vezes com uso de armas para amedrontar. É o caso da mulher presa pela Polícia Civil, junto com dois filhos, todos com prisão decretada pela Justiça por diversos roubos. Eles foram identificados pelas vítimas.
Espanta a naturalidade com que, ao ser questionada pela imprensa, admite que conhece a cadeia a fundo "e não faz a menor diferença, já tenho 10 anos pagos, só mais um pouquinho, que que é...?". Ou quando justifica o que fez.
– Se eu não tenho um casarão, não tenho comida, vocês não deram, o que querem que eu faça? – questiona ela, aos repórteres que tentavam entrevistá-la.
Trabalhar, poderia ser a resposta. Como milhões de brasileiros fazem todo o dia. Mas a trajetória dela, com 57 passagens criminais por lesões, roubos, furtos e estelionato, mostra como o crime no Brasil vive de cruéis saltos de intensidade.