Desde sempre, eu e você ouvimos falar de tráfico de influência no mundo acadêmico. Amizades, em vez de talento, garantindo vagas. Companheirismos políticos ou simpatias ideológicas. Há também muito de interesse financeiro, onde deveria existir paixão pelo ensino. Gente que ganha dinheiro mais fora da universidade do que dentro, mesmo quando assina contrato de dedicação exclusiva à docência, passível de punição caso seja quebrado.
Pois tudo isso foi objeto de uma extensa série de reportagens intitulada Universidades S.A. e publicada em abril de 2015 por Zero Hora e outros quatro jornais do país (Diário Catarinense, Gazeta do Povo, O Estado de S. Paulo e O Globo). Uma investigação em conjunto que revelou como docentes viraram privilegiados, voltados mais para atividades externas do que para a academia, usando o nome da universidade para ganhar prestígio e poder. Tive a honra de participar dessa apuração.
E um dos primeiros resultados concretos dessa investigação é a Operação PhD, desencadeada hoje pela PF no Rio Grande do Sul.
A revelação de que alguns professores sequer compareceram ao mínimo de aulas para se consagrarem mestres é um dos pontos revelados pela colega Adriana Irion na série Universidades S.A.. Agora a PF agiu. O tráfico de influência na obtenção de bolsas e no partilhamento dos valores destinados a ela fica escancarado na investigação federal.
Que a suspeita não recaia sobre o mundo acadêmico como um todo. Afinal, os estudantes não podem pagar pelo fato de que alguns docentes inescrupulosos abusam da confiança e dos cofres do governo federal. O país necessita de mais e melhores mestres, doutores, cientistas – desde que o critério da sua formação seja técnico, não a simpatia.