A noite de quinta-feira terminou com imagens fortes para os telespectadores. Desesperado ao saber que terá mesmo de passar uma temporada atrás das grades do temido complexo penitenciário de Bangu, o ex-governador fluminense Anthony Garotinho grita, esperneia, ameaça fugir. Tenta escapar da ambulância, mesmo de camisolão reservado aos pacientes (no dia em que foi preso, ele alegou doença cardíaca e pediu para ser submetido a tratamento coronariano). O juiz não se comoveu e Garotinho foi mesmo para o presídio, ante gritos de protesto de sua filha.
Cobri para Zero Hora a eleição de Garotinho como governador do Rio em 1998. Ex-comunista na juventude, ele estava brizolista na época em que chegou ao governo fluminense. Passaria depois pelo PMDB e finalmente desembocaria no PR, onde está até hoje, numa encarnação da volubilidade ideológica dos políticos brasileiros. Impressionava sua postura, entre triunfante e debochada, ante qualquer pergunta. Tinha resposta para todos os problemas do Rio – e conseguiu convencer a população, tanto que emplacou a mulher, Rosinha, como sucessora no governo (eleita em primeiro turno).
Que contraste entre o Garotinho daqueles anos e o homem grisalho que luta para fugir da prisão, filmado ontem...O segredo por trás dessa mudança atende pelo nome de foro especial (ou privilegiado). Garotinho perdeu essa condição ao não se eleger para cargo político. Foi para a prisão. O mesmo aconteceu, um dia depois, com seu adversário político e também ex-governador (e ex-aliado) Sérgio Cabral (PMDB).
Até pouco tempo atrás políticos importantes no Brasil tinham direito aos salamaleques reservados para autoridades, na base do ditado "quem é rei não perde a majestade". Não mais, a se julgar pelos presos da Lava-Jato e outras operações anti-corrupção lideradas por policiais federais e procuradores. Garotinho perdeu não só a majestade, mas a altivez e o ar jovial que combinava com o apelido. É apenas mais um entre os ex-políticos encarcerados – basta lembrar José Dirceu (PT), Eduardo Cunha (PMDB), Antônio Palocci (PT), João Cláudio Genu (ex-tesoureiro do PP). É por isso que muito parlamentar enlameado teme um castigo nas urnas em 2018. Podem se tornar os próximos ocupantes do cárcere.