Sem mandato, mas sempre um observador atento da política, o ex-governador Tarso Genro tem se dedicado a estudar um dos flagelos brasileiros, a criminalidade. Integra o Comitê Nacional de Segurança Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV), que reúne estudiosos de várias formações políticas e técnicas. E foi na condição de frequentador desse grupo de estudos que ele conversou com a coluna sobre as diversas crises provocadas pela criminalidade - no país, no RS, no Rio de Janeiro.
Tarso admite a existência de um novo ciclo da criminalidade, cujas consequências são imprevisíveis, mas já se sabe que não serão nada boas. E acredita que qualquer política de segurança tem de ser feita de comum acordo com os operadores do assunto (policiais e outros agentes), inclusive quanto aos seus gastos em salários, equipamentos e qualificação profissional:
– Caso contrário, haverá precariedade nas ações operacionais, o que é pior do que não ter política de segurança.
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O ex-governador diz que um pacto desse nível foi acordado após a Primeira Conferência Nacional de Segurança Pública, quando ele era ministro da Justiça, mas seus resultados foram abandonados. Inclusive pelo governo federal, que – premido pela crise financeira, anos atrás – cortou drasticamente os recursos para a Segurança, de forma linear. Um corte de recursos que também se verifica no governo do Estado.
Em relação ao Rio de Janeiro, lugar que visita com frequência, Tarso lamenta o que considera desvio das finalidades originais das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O ex-governador ressalta que os programas sociais, culturais, esportivos e de inclusão profissional e educacional que deveriam ser o sustentáculo da "pacificação" estão degradados ou foram desvirtuados para finalidades eleitorais. Isso faz com que as UPPs, em grande parte, sejam vistas como "forças de ocupação" estranhas às comunidades pobres e não como "garantidoras" da estabilidade e permanência destes programas, como foram projetadas.
– No confronto da violência legítima do Estado de Direito, com a violência marginal do "estado de fato" dos traficantes, quem ganha é o tráfico, pois ele repõe, rapidamente, os seus "soldados". Isso com os jovens que estão ali, na própria comunidade, esperando uma oportunidade para se afirmaram também como "donos do terreno" – analisa Tarso.
Evitando nomes para não polemizar, o ex-governador do Rio Grande do Sul também critica o que chama de medidas "espetaculosas" na segurança pública em geral, sem planejamento estratégico, que só exacerbam a violência dos marginais e as tentativas frustradas de autodefesa da população. Tarso diz que não existem soluções mágicas: planos sérios em segurança só dão certo a médio e longo prazos. Ele condena com veemência o corte de despesas públicas em Segurança, "como fazem os programas neoliberais em aplicação no pais".
Ou seja, Tarso se orgulha dos reajustes salariais seguidos que deu para os servidores da segurança. Isso é muito criticado pela equipe do governador José Ivo Sartori, que acusa Tarso de ter comprometido as finanças estaduais com essa cascata de reajustes nos vencimentos. Mas a visão de Sartori para a segurança é tema para outra coluna. Hoje foi a vez de ouvir Tarso.