Marcelo Odebrecht tenta ganhar liberdade até 19 de junho, quando completa um ano enclausurado em Curitiba - primeiro, numa cela da Polícia Federal, depois num presídio. Pretende evitar a qualquer custo passar o segundo inverno numa cela gelada da mais fria capital brasileira. O "príncipe herdeiro" da maior empresa de construção do país negocia um acordo de colaboração que pode levar à maior série de denúncia já feitas na Operação Lava-Jato. Uma das condições postas na mesa é como se dará o cumprimento da sua pena.
Sim, ele já está condenado. Enquanto cumpria prisão preventiva, Odebrecht foi sentenciado pelo juiz Sergio Moro (da 13ª Vara Federal de Curitiba) uma pena de 19 anos e quatro meses de prisão. Ele teria de permanecer num presídio, em regime fechado, por pelo menos um sexto da pena - pouco mais de três anos.
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Odebrecht não terá sua pena reduzida. A condenação a 19 anos está mantida (a menos que seja reformada num tribunal de segunda instância ou superior). O que ele negocia é não ficar mais em regime fechado. Isso é possível, conforme Zero Hora checou com autoridades que estão por dentro da negociação. O próprio juiz Moro pode autorizar que o empreiteiro cumpra o restante da pena em regime semiaberto (trabalhando na própria empresa a qual é vinculado, por exemplo). Ou com tornozeleira, em prisão domiciliar.
Moro já fez um aceno que favorece as negociações. Na quarta-feira, ele suspendeu a tramitação de uma ação sobre corrupção e lavagem de dinheiro em oito contratos da Odebrecht com a Petrobras, que teriam resultado em pagamento de propinas entre 2006 e 2014. Um dos réus é Marcelo Odebrecht.
"Diante de informações de que estaria em andamento a negociação de alguma espécie de acordo de colaboração entre as partes, suspendo este feito por 30 dias", escreveu Moro, em despacho.
O mais usual é que delatores tentem se antecipar à negociação antes de serem condenados. É o que aconteceu com a mulher que revelou à Lava-Jato detalhes de como funcionava o setor da Odebrecht responsável por pagamento de propinas _ ela não deve ir para a cadeia. Mesmo se for condenada, Maria Lúcia Guimarães Tavares acertou em acordo que não será presa.
Marcelo Odebrecht apostou que não seria condenado e foi. Agora tenta recuperar o tempo perdido.