Um cadáver ilustre está por trás da 27ª fase da Lava-Jato. Mesmo que não tenha sido objeto expresso dos pedidos de prisão e busca feitos pelo Ministério Público Federal (MPF), o episódio da morte de Celso Daniel (PT), ex-prefeito de Santo André (SP), será objeto de investigação dos procuradores e policiais federais.
Isso porque Ronan Maria Pinto, o empresário preso nesta etapa da operação, é suspeito de envolvimento no nunca esclarecido assassinato daquele ex-mandatário municipal.
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Estive duas vezes em São Paulo e Santo André na época do assassinato, cobrindo o assunto para Zero Hora. Virou tema nacional porque Celso Daniel não era um prefeito qualquer. Era o coordenador do programa político de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República em 2002, quando ele acabou eleito.
Daniel foi morto com dezenas de tiros após ser sequestrado, e a Polícia Civil disse que seria ação de bandidos comuns, mas o Ministério Público Estadual paulista chegou a conclusão diferente: o prefeito teria sido assassinado por cogitar fazer revelações sobre a caixinha montada pelo Partido dos Trabalhadores (ao qual era filiado) junto a empresários do ramo de transportes de Santo André e toda a região do ABC paulista.
A contrariedade de Daniel não era quanto à caixinha, dizem os procuradores de Justiça, mas porque alguns militantes teriam aproveitado para desviar parte do dinheiro, com finalidades de enriquecimento pessoal. Familiares de Daniel afirmam, com todas as letras, que ele teria sido morto em represália pela ameaça de revelar esses desvios. Um irmão dele me disse isso, pessoalmente.
Um dos que teria contribuído para a caixinha (Caixa 2) era, justamente, Ronan Maria Pinto, preso hoje pela Lava-Jato. Ele é dono de uma frota de ônibus em Santo André e teria, em troca do seu silêncio sobre o caso Celso Daniel, recebido dinheiro suficiente para comprar o jornal Diário do ABC. Quem disse isso é Marcos Valério, preso no outro grande escândalo de corrupção do PT, o Mensalão.
Será verdade? Os investigadores da Lava-Jato tentarão saber agora, ouvindo Ronan e o ex-secretário de finanças do PT, Silvio Pereira. Pressionados pela prisão, talvez os dois resolvam detalhar o que sabem - ou não.