A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Depois do excesso de chuva no último ciclo, que culminou na maior tragédia climática do Estado, bons ventos devem voltar a soprar sobre o Rio Grande do Sul. A primeira estimativa do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (14), indica crescimento na produção de grãos de 12,4% na safra 2024/2025. O volume, estimado em 39,7 milhões de toneladas, deve ser puxado, principalmente, pelas milhões de toneladas de soja e de arroz previstas, culturas da safra de verão que estão sendo semeadas neste momento no Rio Grande do Sul. O setor, no entanto, relativiza os números pelo alto endividamento de produtores no campo.
Também nesta quinta-feira (14), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua segunda projeção para a safra de verão, apontando crescimento de 3,3% em relação ao ciclo anterior no volume de grãos a ser colhido, que pode chegar a 38,4 milhões de toneladas.
Gerente do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE, Carlos Barradas vê nos números uma recuperação produtiva tanto do agronegócio gaúcho quanto do país:
— A safra de cereais, leguminosas e oleaginosas de 2024 enfrentou uma série de problemas climáticos em diversas unidades da federação. Para 2025, embora os preços dos principais produtos não estejam apresentando uma boa rentabilidade, se tivermos clima, teremos uma recuperação da safra brasileira, o que é importante para o controle da inflação e para o aumento das exportações.
Economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antonio da Luz acrescenta:
— Das cinco maiores indústrias gaúchas, quatro são movidas a grãos. O setor de máquinas agrícolas e de abate de aves e suínos, por exemplo. Ou seja, quanto mais grãos colhemos, mais eu industrializo e mais o PIB cresce.
Soja
Principal produto do verão, a soja pode chegar à casa das 20 milhões de toneladas neste próximo ciclo no Rio Grande do Sul. O IBGE, que divulgou agora o seu primeiro levantamento, estima inicialmente uma colheita de 21,6 milhões de toneladas, alta de 18% sobre o ciclo passado. A área plantada também deve registrar crescimento, de 1,4%, com 6,8 milhões de hectares.
Já a Conab, na sua segunda projeção, mantém a estimativa inicial de 20,3 milhões de toneladas, alta de 3,5%. Com relação a área, a expectativa é de 6,8 milhões de hectares, crescimento de 1,1% na mesma comparação.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja no Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Ireneu Orth, no entanto, entende ainda ser cedo para cravar esses números:
— As 20 milhões de toneladas podem acontecer se depender do clima. Mas acontece que não é só isso, tem um cenário econômico diferente neste ciclo, trazido pela enchente.
Orth se refere a fatores como o endividamento dos produtores. Ele lembra que parte do solo das lavouras sofreu lixiviação. Em outras palavras, "a terra boa", como chamou, foi levada pelas águas. Em pleno trabalho de plantio, produtores também não conseguiram comprar tecnologia (sementes tratadas e adubo, por exemplo) para as suas lavouras nesta safra pela crise financeira que vive o campo.
O economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz, concorda com a ponderação de Orth e atribui ao que chamou de "falta de medidas" do governo federal:
— O pedido de ajuda do setor não teve uma resposta adequada do poder público. O governo federal optou por um novo caminho. Agora, vamos ter que sofrer com as consequências dessas escolhas.
Mas Da Luz entende que a área plantada de soja, por exemplo, não deve diminuir pela crise econômica. O que deve acontecer, ainda na sua avaliação, é uma maior concentração de terras: produtores com maior poder aquisitivo plantando mais áreas, no lugar dos pequenos produtores que estão descapitalizados.
Arroz
No caso do arroz, produto quem tem 70% da produção nacional colhida no Rio Grande do Sul, a expectativa também é de recuperação. O IBGE espera uma produção de 7,9 milhões de toneladas no Estado, alta de 11,3%. A área é estimada em 948,2 mil hectares, uma alta de 4,2%.
Já a Conab projeta um volume de 8,3 milhões de toneladas, crescimento de 15,3%. A área está prevista em 988 mil hectares, crescimento de 9,7%.
Na avaliação do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, é inegável que os dados mostram uma recuperação:
— Já trabalhávamos com uma perspectiva de aumento de produtividade nesta safra, porque esse ano devemos ter uma normalidade climática (na safra anterior, houve excesso de chuva, de nebulosidade e enchente).
Ainda assim, Velho reconhece que há um limitante para esse cenário envolvendo o grande número de endividamentos de produtores neste ano.
Milho
Na cultura do milho, as instituições interpretaram de forma diferente o cenário gaúcho. No caso do IBGE, o levantamento prevê uma produção de 5,4 milhões de toneladas no Estado, alta de 20%. Na área, a perspectiva é de redução de 10,3%, chegando a 726 mil hectares.
Na Conab, a projeção aponta uma redução tanto em volume quanto em área. São esperados 4,3 milhões de toneladas, uma queda de 11,4%, em uma área de 719,6 mil hectares, redução de 11,7%.
Gerente de Acompanhamento de Safras (Geasa) da companhia, Fabiano Vasconcellos atribui a perspectiva à conjuntura do mercado do milho e "aos insucessos consecutivos das últimas safras".
— O risco de perda ser superior no milho do que na soja em uma estiagem também tem estimulado produtores a migrarem para outras culturas. O aumento de pragas, como a cigarrinha, também — acrescenta Vasconcellos.