A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Há um gargalo na produção da erva-mate que preocupa o futuro do setor no Rio Grande do Sul. E não é o clima. O problema – que já ocorre e pode piorar se nada for feito – está na escassez de mão de obra. Presidente da Câmara Setorial da Erva-Mate no RS, Ilvandro Barreto de Melo explica que está cada vez mais difícil encontrar quem trabalhe no setor:
— Os produtores estão envelhecendo no campo e não está havendo substituição da mão de obra familiar. A contratação também está difícil. Não tem mão de obra qualificada disponível.
Para o presidente do Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate), Alberto Tomelero, “vai ser um problema muito sério futuramente”:
— Não temos como mecanizar a colheita da erva-mate. Conseguimos melhorar o processo só. A tendência é piorar.
E a indústria também sente essa falta de mão de obra, continua Tomelero. Segundo o dirigente, é por isso que a mecanização de processos, como secagem e moagem, por exemplo, estão cada vez mais comuns nas empresas.
Outro fator determinante para a desistência de famílias produtoras tem sido o nível de tecnologia disponível em cada propriedade. Melo, que também é coordenador técnico do Programa Gaúcho para a Qualidade e a Valorização da Erva-mate, diz que, no futuro, só vai se manter na atividade aqueles com alta produtividade nos ervais.
— Já ocorreu uma redução em áreas de baixa produtividade e que tinham um manejo inadequado no erval. Isso deixa de ser economicamente interessante. Muitos ervais estão sendo arrancados por causa disso — acrescenta Melo, que estima que apenas 30% dos 14 mil produtores no Estado estão profissionalizados ou a caminho da profissionalização.
E condiciona:
— Ou a gente profissionaliza ou vai perder mais produtores ainda, como tem acontecido no setor do leite.
Atualmente, a produtividade média dos ervais gaúchos gira em torno das 670 arrobas (uma arroba equivale a 15 quilos de folha verde) por hectare. Mas a distância entre a maior e a menor produtividade é bastante grande: enquanto há propriedades que colhem apenas 200 arrobas por hectare, há outras que chegam a quase 2 mil arrobas por hectare.
Em Venâncio Aires, Capital do Chimarrão, a área plantada, de 1,2 mil hectares, se estabilizou graças a um programa de fomento de mudas da prefeitura, em que o produtor paga apenas 50% do valor, conta Vicente João Fin, chefe do Escritório Municipal da Emater de Venâncio Aires:
— Algum cantinho o pessoal ainda tira, mas os ervais tem ganhado plantios novos em compensação.
A queda de produtores no município, que soma 425 famílias até agora, também preocupa no futuro.
— Por enquanto, saíram alguns, mas entraram outros — explica Fin.
O que pode, acrescenta Melo, segurar essa debandada de produtores é o preço pago pela folha atualmente. Enquanto o valor de várias commodities caiu, o da erva-mate se manteve estável.
E depois de três safras seguidas com prejuízos em decorrência da estiagem, o Rio Grande do Sul deve se recuperar de uma quebra de 30% na produção e colher, nesta safra 2023/2024, 320 mil toneladas de folha.