A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A perspectiva de colocar mais renda no cardápio de produtores familiares é o ingrediente de um projeto que está em desenvolvimento no município de Paim Filho, no norte gaúcho. A partir deste mês, começam a ser distribuídas, para 30 propriedades, entre 400 e 500 doses gratuitas de sêmen de bovinos wagyu.
De origem japonesa, a raça é destaque no mundo todo por conta da carne produzida a partir dela. Com alto grau de marmoreio (gordura intramuscular), tem maciez e sabor singulares. Isso faz dessa proteína um produto nobre, normalmente vendido em boutiques e valorizado: o quilo pode custar até R$ 1,5 mil.
— Com esse trabalho, queremos que as propriedades percebam que é possível se sustentar economicamente. Muitas não têm mais perspectiva de sucessão — explica Junior Vicenzi, secretário da Agricultura do município.
A ideia é que, com assistência técnica mensal do Senar-RS, parceria com o Sindicato Rural e apoio da prefeitura na inseminação, sejam cruzadas raças europeias do rebanho de cada propriedade com a wagyu. Atualmente, a agricultura familiar faz parte de 500 propriedades rurais de Paim Filho.
Inspiração local
A inspiração para o projeto veio de casa. Há 20 anos, a Agropecuária Zanella decidiu apostar na raça wagyu e atualmente soma 135 animais no rebanho:
— Hoje, temos um sabor inigualável na carne. É muito valorizada no mercado — diz Ricardo Zanella, produtor, professor de Medicina Veterinária na Universidade de Passo Fundo e diretor-secretário da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos das Raças Wagyu.
O valor agregado é uma das vantagens apontadas. Um terneiro nascido da cruza de wagyu com outra raça pode valer 45% a mais, explica Zanella:
— Mesmo com um número reduzido de animais, a propriedade passa a ter um faturamento bastante grande.
Embora diferenciado, o manejo da raça é considerado simples. Inclui dieta específica, abate entre 28 e 36 meses de idade e confinamento no final do ciclo.
Mais sobre a raça
- A raça é originária do Japão e foi selecionada inicialmente para produção de animais de tração para as lavouras de arroz
- No Brasil, chegou há cerca de 30 anos, com a empresa Yakult. Desde então, a raça é criada em sistemas intensivos de criação
- São pouco mais de 70 criadores no país; destes, sete estão no Rio Grande do Sul
- No Estado, o frigorífico Coqueiro, de São Lourenço do Sul, abate os animais da raça com certificação.
- Na Universidade de Passo Fundo, há diversas pesquisas sobre a raça. Uma das mais recentes é sobre o uso de pastagens de trigo para a engorda do gado da raça wagyu
- O que confere a maciez e o sabor da carne é o alto grau de marmoreio (gordura intramuscular)