Como em qualquer trabalho, no campo ou na cidade, um dia é preciso se aposentar. E com o produtor rural Fernando Mazza, dono da cabanha Santa Maria do Pinhal, que já foi o maior criatório da raça charolês da América Latina, em Júlio de Castilhos, não foi diferente. O que não esperava era encontrar, no meio do caminho, uma família motivada a levar o seu trabalho adiante.
Aos 79 anos e sem filhos, Fernando decidiu no final de 2021 que era hora de vender o seu plantel remanescente. Também produtor do município, Estevão Cocco soube da oferta e então buscou uma linha de crédito para apostar todas as suas economias naqueles animais.
— Quando soube, me gelei. A gente corria o risco de perder essa genética do município. Iríamos perder o trabalho de anos do doutor Fernando — diz Cocco, que sabia da qualidade da cabanha pelas feiras que frequentava.
Ao receber a informação de que 58 dos seus animais foram comprados por um único produtor — o maior lote do leilão —, Fernando Mazza resolveu ligar para averiguar se não era golpe. Confirmou que não era e, entusiasmado, convidou o comprador para visitá-lo em sua propriedade. Era Estevão, que levou junto a sua filha, Ypycuê Isabella.
— O normal das pessoas é fazer o negócio e cada um seguir para o seu lado. Mas o doutor Fernando é diferente — se emociona o produtor.
Foi depois da visita que a surpresa veio. Ainda comovido com a venda, Fernando ligou para a família e resolveu presentear Ypycuê com uma novilha — que não tinha sido vendida no remate.
— Eu fiquei muito emocionada na hora — lembra a menina.
Foi com esse presente que, aos 16 anos, Ypycuê decidiu começar a sua própria cabanha. Além de fazer inseminação artificial na vaca com a ajuda do seu pai, hoje ela está estudando para cursar medicina veterinária na faculdade. "Se tudo der certo", diz, planeja estrear com o animal na Expointer deste ano.
No caso dos animais adquiridos por Estevão, sua ideia é, aos poucos, substituir o rebanho de gado misto que já tem para apenas charolês. Seu objetivo é criar animais de elite, que possam participar de feiras. “Porque genética já tem”, lembra, referindo-se ao plantel de Fenando.
— A sucessão são os nossos filhos, e o doutor Fernando não teve filhos. Queremos deixar o nome dele por no mínimo mais 50 anos — acrescenta Estevão.
*Colaborou Carolina Pastl