A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Com uma estiagem que ganha novos contornos a cada semana, mercado e consumidor ficam atentos à possibilidade de novos sobressaltos no preço do leite, a exemplo do que ocorreu no ano passado. Em função da seca e outros fatores, a bebida sofreu altas históricas ao longo do ano, com o litro do leite batendo R$ 8 em alguns meses. Em 2023, apesar do quadro persistente, o setor acredita que as oscilações sejam menos intensas.
Secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), Darlan Palharini diz que, embora mais de 200 municípios já tenham decretado situação de emergência por conta da falta de chuva, o volume de leite recebido pelas indústrias se mantém dentro da média do ano passado. Os produtores que mais sofrem são os pequenos, que naturalmente produzem menor litragem.
— O setor lácteo tem uma particularidade de que um ano é diferente do outro. Em 2022, a cada quatro meses mudava totalmente o mercado de consumo e os preços. Esperamos pelo menos uma menor volatilidade em 2023 — diz Palharini.
Do lado do produtor, a pressão dos custos é a preocupação que se mantém. Com a qualidade dos grãos de silagem prejudicada, o produtor se vê obrigado a suplementar a ração para que os animais não passem fome. E isso tudo tem um preço, lembra o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang.
Na última semana, Tang percorreu propriedades de diversas regiões do Estado, principalmente no Noroeste, onde se concentra a maior parte da produção leiteira gaúcha, para ver de perto a situação dos produtores. Dentre os que plantam milho, a condição das lavouras é de plantas bastante prejudicadas. Muitos estão apostando no azevém e no trigo para a alimentação das vacas. O cereal de inverno, aliás, tem substituído o milho como alternativa.
— Os prejuízos provocados por uma estiagem infelizmente não se resolvem assim que começa a chover. Vi lavouras onde você precisa procurar a espiga e depois que achar uma espiga, tem que procurar se tem grão. Isso significa uma silagem de péssima qualidade que precisa suplementar — relata o presidente da Gadolando, atentando para os custos.
Embora o preço de referência do leite venha mostrando tendência de queda (previsto para R$ 2,1592 o litro em janeiro, valor 1,9% menor que o consolidado em dezembro), Tang diz que os produtores tem sido informados sobre reajuste para cima no preço pago pela indústria.
— Isso vai nos ajudar. Hoje, o custo para produzir está perto de R$ 2,50 — diz o presidente, que não acredita em “exorbitâncias” de preço ao consumidor este ano.
Historicamente, o leite tende a estar mais barato nas gôndolas dos supermercados durante o verão. A partir de maio, o preço começa a subir com o aumento do consumo nos meses mais frios.
Para o secretário-executivo do Sindilat, o nível de consumo é outro ponto de atenção. As classes que mais consomem leite são as que mais têm problema de renda. A expectativa é de que o pagamento de auxílios sociais, como o Bolsa Família, melhore a demanda nos próximos meses.
— Acredito que não se repetem os aumentos do ano passado, que foram pontuais e pegaram até o mercado de surpresa. Claro que vai ser quase impossível não haver repasse de valores, mas não naqueles patamares — projeta Palharini.