A expectativa de que a segunda safra de milho do Brasil trouxesse um alívio aos custos de produção de carnes no segundo semestre acabou ficando pelo caminho da conjuntura internacional. Dados divulgados pela Embrapa Suínos e Aves nesta segunda-feira (17) mostram que, em setembro, as despesas cresceram tanto para o frango quanto para o suíno, na comparação com o mês anterior. E foram puxadas, ainda que em proporções diferentes, pelo item nutrição. Ou seja, os ingredientes da ração seguem pesando nas contas de produtores e indústrias.
— Se tinha a percepção de que com a segunda safra brasileira de milho haveria uma reacomodação (de preços). Para nossa surpresa, foi exatamente o contrário — pondera Rogério Kerber, diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do RS (Sips).
No acumulado do ano, o índice do custo de produção do suíno, calculado pela Embrapa, tem elevação de 11,37%. No índice do frango, o percentual, em igual período, é de 5,37%. Nas duas proteínas, o gráfico mostra que um novo movimento de alta surgiu a partir de julho, justamente quando entra a oferta do milho brasileiro de segunda safra.
Ingredientes externos, no entanto, ajudaram a manter cotações valorizadas. Kerber observa a safra dos Estados Unidos teve revisão para baixo — com os americanos deixando de colher cerca de 30 milhões de toneladas. Esse cenário enxugou a oferta internacional e fez o mercado começar a se reposicionar. Além disso, a manutenção e o recrudescimento da guerra Rússia-Ucrânia, com a possibilidade de interrupção do corredor de exportação de grãos, também ampliam as especulações.
Presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, lembra que nesse contexto as exportações do milho brasileiro cresceram e, com a demanda aquecida, os preços se mantêm valorizados. Na relação das despesas de produção do frango, o dirigente acrescenta um outro fator. O encarecimento do valor dos pintos de um dia.
Diagnóstico apontado também pelo analista de economia da Embrapa Aves e Suínos Ari Jarbas Sandi. Ele pondera que a nutrição ainda "é o que mais impacta a composição de custo", mas que o preço do pinto de um dia chama a atenção — em 12 meses, acumula alta de 20,21%.
— É um reflexo da redução na produção das indústrias (registrada no RS em 2021 e início deste ano) . As companhias de genética não iam produzir sem a demanda —explica o presidente da Asagv.
E os cereais de inverno, que entram na fila como alternativa para compor a ração animal, por ora, estão igualmente valorizados, ponderam os dirigentes. Sem refresco nos custos, a oferta de produtos para as festas de final de ano (aves natalinas e suíno para o ano novo) não devem escapar de reajustes.