A perspectiva de que o Brasil possa deixar a condição de importador para ser autossuficiente e até mesmo exportador de trigo vem do potencial da cultura a ser explorado. Em novas fronteiras agrícolas e nos espaços em que a lavoura já é consolidada, caso do Rio Grande do Sul e do Paraná. O cereal passou a estar à mesa de debates em razão de fatores conjunturais. A autonomia a ser conquistada pelo Brasil na produção voltou a ser mencionada nesta semana, pelo presidente Jair Bolsonaro, em meio ao anúncio do Plano Safra.
A perspectiva de que o país possa dar conta do consumo interno, de 12,7 milhões de toneladas, com previsão de chegar a 14 milhões de toneladas nos próximos anos, e ainda gerar excedente se baseia em espaços que podem ser conquistados.
Nesta safra, a colheita pode chegar a 8,1 milhões de toneladas no país, ainda puxadas pelo desempenho do Sul. Um crescimento anual de 10% da produção nacional permitiria ampliar esse volume para 20 milhões de toneladas em 2031.
Essa expansão passa por área em que a cultura ainda pode crescer. No Cerrado, por exemplo, a área propícia ao trigo é estimada em 4 milhões de hectares - sendo 1,5 milhões para o cultivo irrigado e 2,5 milhões para cultivo de sequeiro. Desse potencial, só 5%, pouco mais de 200 mil hectares, são cultivados.
— Acho que se tem uma expectativa para a produção de trigo com pivô central (para irrigação) no Centro-Oeste. O potencial existe, outra coisa é exercê-lo — pondera Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS).
Pires vê espaço para o cereal crescer também no Estado, face à grande liquidez do produto com a ampliação de mercados (da panificação à produção de etanol). No ciclo em plantio, será semeado 1,4 milhão de hectares, a maior área em 42 anos. O dirigente acredita ser possível chegar aos 2 milhões de hectares com culturas de inverno:
— O que vem dando liquidez ao trigo, principalmente o gaúcho, foi a abertura do leque de possibilidades. Antes, colhia e não tinha para quem vender.
A incerteza sobre o futuro no fornecimento do cereal em razão do conflito Rússia-Ucrânia, maior e quarto maior exportadores globais, acelerou o processo em busca de uma produção maior. Que vinha sendo adubado por outras necessidades, com as apresentadas pela indústria de proteína animal.