Há uma figura em extinção no cenário produtivo do Rio Grande do Sul: a do produtor de arroz. Atualmente, a dedicação exclusiva à cultura está deixando de existir, para dar lugar a um sistema que coloca, sobretudo, a soja na composição da lavoura — mas que já testa outras alternativas, como o milho e até mesmo o trigo. A evidência vem dos números divulgados nesta sexta-feira (01) pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Na recém colhida safra de 2021/2022, a oleaginosa ocupou 417,38 mil hectares em áreas de rotação com o cereal, superando as projeções do início do ciclo e representando um crescimento de 12% em relação ao ciclo anterior (veja quadro). Em 10 anos, a expansão foi de 94%.
— A soja veio para intercalar com o arroz e foi bastante importante para agregar conservacionismo do solo, dar uma limpada no arroz vermelho, ajudar a rotacionar as moléculas de herbicida e, também, para dar uma possibilidade renda ao produtor. Isso não volta mais. Arroz sobre arroz não dá — avalia Flávia Tomita, diretora técnico do Irga, ao mencionar os ganhos agronômicos e financeiros trazidos pelo sistema.
E se as vantagens aparecem, os desafios também. Para integrar as duas produções (e agregar outras) no mesmo espaço, é preciso ficar atento sobretudo à drenagem de água. É o ajuste de dose de umidade necessário: o arroz tem a irrigação por alagamento, mas as demais culturas pedem menos água.
— O produtor tem de estar dominando a drenagem. Senão, vira um problemão —alerta Flávia.
Na divisão do Rio Grande do Sul de acordo com as regionais do Irga, é a chamada Zona Sul que tem a maior fatia de soja em rotação com o arroz: 109,98 mil hectares.
— É a que está mais tempo plantando soja em rotação. Os produtores sofreram há mais tempo. Hoje, já se tem uma expertise, o pessoal conseguiu enxergar que a drenagem é fundamental — observa Igor Kohls, Coordenador Regional da Zona Sul do Irga.
Na próxima safra a ser cultivada, a aposta é de que o espaço da soja siga crescendo. Para o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros (Federarroz-RS), Alexandre Velho, pode se chegar à marca dos 500 mil hectares. Além disso, deve ser ampliada a presença do milho na várzea.
— A área de soja vai superar a de arroz em pouco tempo devido à falta de rentabilidade do arroz — avalia Velho.
No ciclo 2022/2023, o Irga fará pela primeira vez um levantamento sistemático do cultivo de milho em sistema de produção com o arroz.