A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O clima semiárido da caatinga brasileira talvez seja um dos cenários mais improváveis quando se pensa no cultivo de grãos de soja e de milho. Mas é nesta porção de terras áridas e de altas temperaturas, excelentes para a fruticultura, onde se instala o maior e mais moderno centro de geração de novas linhagens da Bayer no hemisfério Sul. A unidade fica no município de Petrolina, no sertão pernambucano, às margens do rio São Francisco.
Deste local saem variedades de soja e híbridos de milho que abastecem produtores do Brasil todo. Antes, as sementes passam por melhoramento genético de precisão desenvolvido na unidade. O centro foi inaugurado há uma década, mas vem passando por projeto de expansão desde 2019. O investimento recente em nova estrutura recebeu aporte de 24 milhões de euros, equivalente a R$ 125 milhões.
O clima estável da região, com condição ambiental favorável para plantar o ano todo, é o que explica o endereço do centro de pesquisa da Bayer, conta Marijke Daamen, líder de Operações de Desenvolvimento de Produtos da unidade de Petrolina. A estrutura tem capacidade para plantar 100 mil indivíduos por semana. Mais de 20 mil sementes híbridas são testadas ao longo do ano no local.
— Conseguimos plantar milho e soja nas 52 semanas do ano. Isso dá possibilidade de produzir as sementes no período da entressafra das regiões produtoras. Ou seja, as sementes ficam prontas a tempo dos cultivos porque se conseguem fazer os testes de melhoramento genético dentro de um ano — explica Marijke.
A estrutura mais recente é a área de cultivo protegido. Mesmo no clima semiárido, existem variações. Por isso, o local conta com espaço construído para garantir parâmetros em ambiente 100% controlados. Telhado transparente para aproveitar a luz do sol, com um sistema de cortinas para segurar a energia e iluminação a led para garantir e suplementar a luminosidade são alguns dos exemplos na estrutura. Tudo é controlado automaticamente e registrado em sistema.
As plantas são polinizadas, literalmente, à pinça, em trabalho manual minucioso feito por profissionais treinados especificamente para a função. Sete dias depois, os vegetais são revisados para conferir se foram geradas as vagens. O processo permite produzir soja em até 80 dias, quando o ciclo normal do grão, no campo, é de 120 a 130 dias.
A etapa descrita acima é só o começo de toda uma cadeia de ciência e tecnologia que passam as plantas até se chegarem a pequenas lascas ou amostras de farelo do grão colhido. Esse fragmento segue para análise nos Estados Unidos, completando um trabalho de genômica avançada que inicia na estufa e termina no laboratório. Os dados obtidos é que definem se os objetivos foram atingidos e quais sementes serão comercializadas lá na frente.
Além das novas linhagens, a unidade em Petrolina abriga o desenvolvimento de outros produtos. Entre os próximos lançamentos, estão tecnologias com mais resistência a pragas e tolerância a herbicidas. Também está em desenvolvimento um milho de baixa estatura, que garante alta produtividade e menor quebramento pelo vento por conta do menor tamanho das plantas. A multinacional ainda pretende lançar variedades de soja focadas nas especificidades da região Sul.
Em média, são necessários de 13 a 16 anos e milhares de testes para se disponibilizar novas tecnologias ao produtor rural. Um trabalho demorado, portanto, mas que mira o futuro.
— Os próximos 10 anos já estão em desenvolvimento — resume Fernando Prudente, diretor do negócio de soja e algodão da Bayer no Brasil.
A coluna viajou a Petrolina a convite da Bayer.