Os números são o mais contundente argumento quando se trata de avaliar o impacto da estiagem que o Rio Grande do Sul atravessa nesta safra de verão. Sejam referentes ao volume das perdas na produção de grãos ou ao impacto econômico que pode fazer o PIB gaúcho chegar ao seu pior desempenho da história, como apontou a projeção da Federação da Agricultura do RS (Farsul) em reunião realizada ontem.
São dados que, por si só, permitiriam colocar o quadro atual entre os mais graves dos últimos tempos – em 70 anos, como repetiu o governador Eduardo Leite no encontro.
– O choque com a estiagem reverbera nos demais setores, traz uma perspectiva terrível para toda a economia – ressaltou Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul.
O histórico recente só confirma a conexão direta e indireta. A produção ajuda a fazer girar a roda dos outros setores, como o da indústria e o de serviços. Mas a severidade da estiagem presente vem de um alinhamento singular, de fatores climáticos e conjunturais – tal qual o verificado em 2021. Só que na direção contrária.
– Fomos do céu ao inferno – reforçou o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Do ponto de vista técnico, o tempo seco se estendeu para muito além da primavera.
O ciclo se encaminha para a parte final, sem que a esperada perspectiva de melhora tenha se concretizado na amplitude necessária. Pelo contrário, o cenário foi se agravando. Foi acrescido de uma onda de calor intensa, que acentuou as perdas.
Na conjuntura, igualmente se tem um cenário de dificuldades. Faltou dinheiro para o crédito do Plano Safra vigente. Diante da falta de recursos para a subvenção, com o aumento do juro básico, a solução encontrada foi suspender o acesso ao crédito. Justamente na hora em que é necessário preparar o terreno dos cultivos de inverno – e que a colheita confirma os prejuízos no verão. Há dificuldade na costura do próximo pacote. E no meio de tudo isso, o custo da solicitada prorrogação dos vencimentos, medida considerada crucial para não excluir os produtores do sistema de crédito oficial.
– Para completar, a Rússia invade a Ucrânia – acrescentou Pereira, sobre os efeitos potenciais da guerra.