Dentro da propriedade, em Não-Me-Toque, no norte do Estado, Maiquel Junges contabiliza perdas na lavoura de 11 hectares de milho: chegam a 75% em relação ao que esperava colher no início do ciclo devido à falta de chuva, segundo perito do seguro. Mas é na condição de coordenador regional dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais do Alto Jacuí e como presidente da representação n0 seu município que ele tem uma dimensão ainda maior do impacto sofrido em razão do tempo seco que se prolonga. E que prejudica também o plantio da soja, principal produto da safra de verão do Rio Grande do Sul.
— Tem regiões há mais de 60 dias sem chuva. O sentimento é de muita tristeza, porque no curto prazo é mais uma safra que se perdeu — pondera Junges.
Em algumas áreas do Estado, essa poderá ser a terceira colheita de milho com prejuízos decorrentes da falta de umidade. Na propriedade de Junges, pode ser a segunda. Teve perdas acentuadas em 2019/2020, quando a produção gaúcha de grãos de verão caiu, arrastando consigo a economia do Estado, que seria fragilizada ainda pelo advento da pandemia.
— Passa dia, passa dia e vai piorando a situação — lamenta o dirigente.
Em um giro percorrido na área de 19 municípios que integram a regional que coordena, registrou imagens que mostram os efeitos visíveis das perdas (veja vídeo abaixo) que têm variações, mas em alguns locais chegam a 100%. Em pontos com grande impacto, alguns agricultores estão optando por retirar a lavoura, na tentativa de semear outra cultura.
Os prognósticos climáticos indicam uma tendência de retorno da regularidade da chuva apenas na última semana de 2021 e início de 2022. E é dentro da normalidade, nada em excesso, pontua Flávio Varone, meteorologista da Secretaria da Agricultura.
— No no passado foi em novembro que ocorreu o atraso. Neste ano, veio para dezembro completa Varone, em relação à janela de plantio da soja.
No momento, as características são de um La Niña, mas que deve ser de curta duração. No caso da soja, se a umidade for retomada, ainda é possível retomar o curso das projeções, que estimam novo recorde de produção.