Foi por meio de um intercâmbio na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que a chinesa Camila Chen abriu fronteiras para o seu primeiro contato com o Brasil. Hoje, ela é consultora da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) na China, atuando na intermediação entre os dois países no mundo do agronegócio. Natural de Nanjing, capital da província de Jiangsu, no Leste da China, ela conta que "ama Porto Alegre" e que o Rio Grande do Sul foi porta de entrada para a sua paixão brasileira.
Unindo paixão e trabalho, ela lidera projeto de apoio a empresas que desejam acessar o mercado do maior parceiro comercial do Brasil. Leia trechos da entrevista sobre a trajetória dela no meio de campo de negócios intercontinental.
Você atua como consultora da CNA na China. Qual o seu papel? Que atividades desempenha?
O principal papel que eu desempenho é apoiar as empresas associadas ao projeto Agro.BR da CNA a acessarem o mercado chinês. Como sabemos que cada empresa tem uma realidade e um produto diferente, desenvolvemos um trabalho altamente customizado. O primeiro passo desse trabalho é o desenvolvimento em conjunto com os executivos das empresas de uma estratégia individualizada para a China, considerando todos os fatores internos e externos para que as empresas possam estar mais bem preparadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades.
Depois de desenhar a estratégia junto à empresa, o trabalho pesado começa. Temos um time grande na China, multicultural e multidisciplinar, liderado por mim. O nosso time faz todo o trabalho de preparação da empresa, de preparação do potencial comprador e um acompanhamento contínuo no relacionamento. São muitas sessões de mentoria, treinamento, estudos orientados, simulações, check-lists etc.
Qual a relevância de ter uma conexão, um canal brasileiro na China para a CNA?
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, em especial no setor de agronegócios. Essa parceria vem se intensificando a cada ano. No ano passado, o Brasil foi um dos principais fornecedores de alimentos agrícolas da China. Por isso, é fundamental ter essa conexão tanto para os exportadores brasileiros quanto para os compradores chineses. A CNA é a ponte para os produtores do agro brasileiro na China e conta com uma equipe qualificada para transitar entre as duas culturas e assegurar que não haja ruído na comunicação.
Quais os maiores desafios de quem, como você, atua nessa intermediação entre os dois países?
China e Brasil são países culturalmente e geograficamente tão distantes. Muitas vezes, os brasileiros sabem muito bem o que estão falando, mas não sabem o que o lado chinês está escutando. Eu acho que essa dificuldade vem de várias razões: de diferenças culturais, modelo de negócios, jeito de comunicação e falta de conhecimento do mercado etc. Por isso, o nosso papel aqui é ajudar as empresas exportadoras brasileiras no conhecimento em mercado chinês, na construção de relacionamento estável com os stakeholders e no treinamento sobre a comunicação, negociação e interação com os parceiros chineses.
O quanto a aproximação cultural é importante para que os dois países possam ter boas relações comerciais?
Na China, a construção do relacionamento de longo prazo é essencial para o sucesso dos negócios. Para construir boas relações comerciais, o exportador brasileiro precisa estar bem preparado, conhecer muito bem o seu próprio produto e o mercado na China. Caso a empresa brasileira não consiga fechar um contrato com o parceiro chinês, nós sugerimos que não pare de investir no relacionamento com eles. Há um ditado popular na China que diz que apesar de não fechar o negócio, ainda temos uma boa relação.
Que características você acha que uma pessoa que quer trabalhar dentro do agronegócio tem de ter?
Para trabalhar no agronegócio e exportar produtos para a China, a pessoa deve conhecer a cultura e o mercado chinês e ter disposição para desenvolver relacionamento com os parceiros chineses. O relacionamento vem sempre antes do negócio. Na China, pode-se errar na estratégia de entrada e no produto, esses erros não são fatais, mas não se pode errar na escolha do parceiro, então se recomenda também muita cautela, paciência, pesquisa e disposição.
Pela relevância da China no comércio global do agro, você considera importante o conhecimento do idioma chinês?
O conhecimento do idioma chinês é um diferencial muito importante, mas para estar fluente são necessários muitos anos de estudo e vivência na China. Para os empresários que não falam mandarim, é bom aprender algumas palavras simples para mostrar interesse e quebrar o gelo na primeira visita. Por exemplo: “NiHao” significa “olá”, “XieXie” significa “obrigado”. São palavras simples, mas úteis. Mais importante que o idioma é a fluência na cultura e modelo de negócios na China, por isso, se o exportador falar um bom inglês, ele já vai conseguir desenvolver negócios na China.