Na ótica do copo meio cheio, o preço de referência do litro de leite ao produtor projetado para este mês no Estado, R$ 1,3710, é 17% maior do que em fevereiro do ano passado. Na do copo meio vazio, é o terceiro recuo seguido desde dezembro, sendo 4,4% inferior ao consolidado em janeiro. Em qualquer uma das perspectivas há um ingrediente comum de preocupação: a alta nos custos. Porque a valorização dos insumos é muito superior à do produto. Soma-se a alta das importações e o impacto do fim do auxílio emergencial sobre o consumo, e o resultado é uma mistura de incerteza.
– O custo tem subido para todo mundo, produtor e indústria. E, quando os preços recuam, ambos trabalham em um cenário negativo – pondera Alexandre Guerra, vice-presidente do Conseleite.
O dirigente acrescenta que a alta dos combustíveis é outro impacto que será adicionado, em efeito cascata, às despesas.
– Os desafios são grandes principalmente com a alta do dólar e dos insumos – completa Tarcísio Minetto, que presidiu a reunião do Conseleite.
O peso maior vem dos grãos que entram na alimentação do gado. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) pontua que, só nos últimos seis meses, o custo da ração subiu 45%, e o de medicamentos, 40%. De janeiro para fevereiro, quando o preço ao produtor caiu, o desembolso com adubo foi 20% maior. Esse desequilíbrio se traduz em perda de renda com a atividade.
– Nossa preocupação é essa: estamos vendo produtores saindo a cada ano – pondera Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS.
A entidade entende que só o produtor tem sido penalizado com a queda de preços, porque as indústrias não estariam repassando a alta nos seus custos aos supermercados. Outro ponto cobrado é o de atenção do governo federal para as importações, especialmente as de produtos do Mercosul.
Guerra contrapõe que preços são determinados pela lei de oferta e procura, sendo o mercado soberano quando trata-se de commodities. O Estado começa a entrar no período de baixa da produção do leite, a entressafra, com o pico do recuo usualmente em abril. A redução na oferta tende a mexer em valores. Não há previsão de altas como em 2020, quando houve recorde da série histórica do Conseleite. Mas a estabilidade deve ficar dentro dos novos patamares.
– Precisamos que sejam superiores aos custos de produção – observa Guerra.