Valorizado em 2020, o leite deve ter em 2021 um cenário de preços mais estáveis, para produtor e consumidor. A projeção, é claro, está sujeita a variáveis. A começar pelo auxílio emergencial que alimentou a demanda do mercado interno. A possibilidade de retorno das aulas presenciais nas escolas é outro ponto importante. Variação cambial e efeito do clima na produção do Rio Grande do Sul são outros fatores de peso.
— Como aumentou muito em 2020, é provável que o próximo ano seja de estabilidade, com leves altas no primeiro semestre — projeta Rodrigo Rizzo, presidente do Conseleite.
A elevação do preço ocorreu tanto no valor pago ao produtor quanto no verificado nas gôndolas de supermercados. A alta real verificada em 2020 no valor de referência pago ao produtor foi de 19,67%, a maior em 14 anos, conforme série histórica do Conseleite.
Para o consumidor, o litro de longa vida em novembro era 28,46% mais caro que em janeiro e o maior desde julho de 2018. Para Marco Antonio Montoya, professor da UPF e responsável pelo estudo que embasa os dados do Conseleite, o cenário deste ano foi atípico e reflete as mudanças nos hábitos de consumo trazidas pela pandemia:
— A série deste ano é diferente da de todos os outros. Tivemos preços em alta praticamente o ano todo.
Mas nem mesmo essa valorização expressiva foi capaz de atenuar as preocupações do setor produtivo. O aumento do desembolso necessário à produção corroeu a possibilidade de ganhos. No acumulado dos últimos seis meses, só o gasto com ração cresceu 35,6%, segundo levantamento da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS).
— Seria motivo para o agricultor estar comemorando (a valorização). O problema todo é que a margem está menor do que no ano passado porque o custo de produção se elevou — observa Eugênio Zanetti, vice-presidente da entidade.
Soma-se a isso o cenário de nova estiagem, com perdas consolidadas no milho e a preocupação cresce. Sem ter o que dar de comer ao plantel, muitos produtores têm se desfeito de animais, e outros começam a investir na compra de sêmen de gado de corte, para a produção de carne. Zanetti entende que o problema atual da falta de milho persistirá em todo o primeiro semestre do ano que vem:
— Não acreditamos em redução nem do custo, nem do preço do leite.