De uso consolidado em culturas como soja, milho e algodão, a transgenia ainda não havia entrado em campo no trigo. O assunto, que começava a ser discutido em território brasileiro, por conta de audiência pública da CTNBio marcada para o dia 22 de outubro, ganhou proporções maiores a partir da liberação comercial do cereal concedida pela Argentina. O vizinho é o principal fornecedor do cereal para o Brasil, que não é autossuficiente na produção. Nesta quarta-feira (14), a Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo) emitiu um comunicado em que se posiciona contra a comercialização tanto de farinha quanto de trigo geneticamente modificado argentino.
Entre os argumentos listados na nota assinada pelo presidente-executivo da entidade, Rubens Barbosa, está a preocupação com a mistura do produto transgênico, sem cultivo autorizado no Brasil, com o convencional. E a percepção dos compradores dessa matéria-prima, os moinhos, e de consumidor final em relação ao assunto. "Em pesquisa interna promovida pela Abitrigo com os moageiros brasileiros, 85% não foram favoráveis à utilização de trigo GM e 90% informaram estar dispostos a interromper suas compras de trigo argentino, caso se inicie a produção comercial naquele país e sua exportação para o Brasil", diz um dos trechos.
Em seguida, acrescenta que não foi identificada demanda no mercado brasileiro por soluções transgênicas para essa cultura. "Ao contrário, há manifestações publicadas de associações de consumidores com restrições ao uso desses produtos transgênicos", completa o texto. Outro ponto levantado é em relação ao custo. A entrada do produto argentino geneticamente modificado acrescentaria "custos de controle" no processo de importação, com "consequências sobre os preços aos consumidores".
Como coordenador da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim diz ver "com grande preocupação a manutenção da organização da cadeia do trigo hoje produzido no brasil, que tem aceitação do consumidor local e global".
— Essa tecnologia não existe ainda no país — reforça.
A Câmara Setorial das Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura, também conduzida por Jardim, está discutindo com seus integrantes o tema. A posição deve ser apresentada na audiência pública da CTNBio no dia 22.
Por não ser autossuficiente na produção, o Brasil precisa importar trigo para dar conta da demanda interna de consumo. Segundo a Abitrigo, a Argentina é a principal fonte de abastecimento, com cerca de 60%, sendo complementado pelo trigo nacional (30%) e de outras origens (10%).