A difícil decisão de cancelar a Expointer de 2020, como antecipou a coluna, mostra a responsabilidade do setor diante do quadro imposto pela pandemia – no território gaúcho e no mundo afora. Não é ser contra a feira. Pelo contrário. É preservar o patrimônio que a exposição consolidou ao longo das suas 42 edições como mostra internacional, em uma história iniciada bem antes, no bairro Menino Deus, na Capital.
Em um ano tão complicado como este, o espaço do parque Assis Brasil, em Esteio, era visto por muitos como a chance de marcar uma virada do setor, deixando para trás os impactos significativos da estiagem. E dando ânimo para que os produtores pudessem seguir adiante. Reconhecer e premiar o que o campo produz de melhor para recuperar o fôlego.
Diante do grande número de perguntas sem respostas e sem garantia de que seria possível resguardar o público – que chega a um estádio de futebol cheio que passa diariamente pela área de 141 hectares, o desejo de virar a página deu lugar à preocupação.
E a perspectiva de que, para ser realizada, a Expointer tivesse de abrir mão do que lhe é mais peculiar, a interação urbano e rural, também pesou.
A decisão pela suspensão em 2020 foi unânime. Entidades organizadoras, ao lado da Secretaria da Agricultura, manifestaram essa posição na reunião nesta quinta-feira (2) à tarde.
Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag-RS), Organização das Cooperativas (Ocerg/Sescoop-RS), Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos (Simers), Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça e prefeitura de Esteio também sinalizaram a possibilidade de realização de julgamentos e provas de raças. Pelo menos 14 entidades demonstraram interesse em fazer o que consideram o fechamento do ciclo deste ano.
Repercussões
Presidente da Farsul, Gedeão Pereira:
— As entidades têm muita responsabilidade, não podemos aglomerar público. O racional é não ter Expointer neste ano e fazer uma grande feira em 2021.
Presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva:
— A Expointer é um evento da sociedade gaúcha. Não podemos andar na contramão. Não quando estamos exigindo que pessoas fiquem em casa, que comércios que recebem 30 pessoas por dia fiquem fechados. Na feira, estamos falando de 10 mil pessoas só para trabalhar.
Presidente do Simers, Claudio Bier:
— Não gostaríamos de ter o cancelamento da Expointer. Mas, infelizmente, a covid-19 nos traz uma série de coisas. Consultamos revendedores, mas, como a pandemia está branda em algumas regiões, ninguém queria sair do Interior e vir a Esteio. Entre os clientes, a situação era a mesma.
Presidente da Febrac, Leonardo Lamachia:
— A decisão foi em respeito às demais entidades, que teriam efeito direto da redução de público. O fio condutor da Febrac foi esse. A Expointer é uma feira que depende da presença de todos os promotores para ser o que é. Em não havendo essa possibilidade, a única alternativa era o cancelamento.
Prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal:
— Entendemos que não há protocolos suficientes para garantir segurança, e a feira corria o risco de não ter o resultado que se gostaria. A expectativa era de que pudesse ser realizada. Infelizmente, não é o cenário que temos.
Secretarário de Agricultura do RS, Covatti Filho:
— O receio da pandemia poderia desmobilizar as pessoas, e a nossa feira é fantástica. Foi uma decisão comum. Mas ficou a vontade de associações que necessitam do parque para fazer o final do seu ciclo. Agora, veremos como organizar.