O prazo inicial para o produtor rural acessar crédito rural a taxas de juro pós-fixadas, atreladas à inflação, foi prorrogada para 30 de novembro pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A data para que as instituições financeiras começassem a oferecer a modalidade de financiamento, principal novidade do Plano Safra 2018/2019, era a partir de 1º de outubro. Mas, se depender da disposição do produtor rural em acessar crédito a juro variável, a medida não irá prosperar.
Segundo o Banco Central (BC), o adiamento foi necessário para que as instituições possam adaptar seus sistemas. Gerente de Mercado Agronegócios do Banco do Brasil no Rio Grande do Sul, Anderson Quevedo do Nascimento confirma as dificuldades encontradas para operacionalizar uma modalidade de crédito totalmente nova.
– O crédito rural com juro pós-fixado é uma quebra de paradigma, trazendo complexidade ao sistema – relata.
Mas a dificuldade maior para fazer a modalidade de crédito deslanchar no país certamente não virá do sistema. Em quase três meses de vigência do novo Plano Safra, que começou em julho, a demanda dos produtores por financiamento agrícola a juro pós-fixado é praticamente nula no país.
– O que percebemos dos nossos clientes é de que, enquanto houver a opção de acessar crédito pré-fixado, dificilmente irá aderir à outra modalidade – diz Nascimento, acrescentando que o Banco do Brasil não tem meta a cumprir para fazer a linha pós-fixada prosperar.
E a questão não é a atratividade, já que pela inflação atual seria mais vantajoso ao agricultor acessar crédito pelo juro pós-fixado – hoje abaixo dos 6% ao ano cobrado dos médios produtores e dos 7% dos grandes. O calcanhar de aquiles está na instabilidade vivida pelo país em razão da incerteza eleitoral e, consequentemente, dos rumos da inflação.
– É um retrocesso tentar embutir novamente juro pós-fixado na agricultura brasileira. Isso já foi feito no passado, resultando em um triste endividamento do setor – lembra Elmar Konrad, presidente da Comissão de Crédito da Federação da Agricultura no Estado (Farsul).
O dirigente refere-se ao início da década de 1990, quando taxas pós-fixadas em período de instabilidade da inflação acabaram levando muitos produtores a quebrarem, sendo socorridos mais tarde pela securitização.
– Já temos riscos inerentes à atividade, como o clima e o mercado. Preferimos uma taxa maior, mas fixa, do que algo desconhecido – resume o dirigente.