Enquanto Estados Unidos e China protagonizam novos capítulos da guerra comercial acirrada nos últimos meses, o agronegócio brasileiro ganha ainda mais evidência no cenário internacional. Um dos países estratégicos para suprir a demanda global por alimentos, o Brasil por ora está se beneficiando da briga entre as duas maiores economias mundiais – pelo menos no mercado de grãos.
A demanda da China pela soja dos Estados Unidos, que já vinha enfraquecida, deverá ficar ainda mais restrita – reforçando a necessidade da produção da América do Sul.
– A China está cada vez mais buscando parceiros fora dos Estados Unidos, justamente por vislumbrar que essa guerra não acabará tão fácil – avalia Hsia Hua Sheng, professor de Finanças Aplicadas da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A demanda maior pela soja brasileira deverá manter elevados os prêmios nos portos, até mesmo para datas mais distantes de entrega.
– Certamente essa guerra também refletiu no percentual de aumento da área plantada com soja no país, em torno de 3% na nossa projeção – indica o consultor em mercado de agronegócio Carlos Cogo.
Se o embate perdurar em 2019, o consultor prevê a possibilidade de os Estados Unidos reduzirem o tamanho das lavouras de soja, pressionando a cotação na Bolsa de Chicago. Se para os grãos o saldo por enquanto é positivo, para a pecuária o sinal de alerta permanece ligado.
A briga entre as duas maiores economias mundiais fez as moedas de países do sudeste asiático se desvalorizarem nas últimas semanas – tornando as produções de carne de frango e de suíno mais competitivas.
– Países como Tailândia, Vietnã e Indonésia, por estarem mais próximos geograficamente e terem custos menores de produção, poderão se tornar alternativas mais vantajosas de compra para a China – alerta Sheng.
As sobretaxas anunciadas nesta semana pelos gigantes mundiais, somando US$ 200 bilhões em importações do país asiático e US$ 60 bilhões de produtos americanos, entrarão em vigor na próxima segunda-feira. O novo capítulo do embate reforçou a percepção de que o controle da guerra comercial está muito mais nas mãos dos americanos do que dos chineses.