No momento em que o Brasil se prepara para dar explicações aos americanos, na tentativa de convencê-los a reabrir o mercado para a carne bovina in natura, o setor volta a ser sacudido por denúncias, dessa vez feitas por Wesley Batista, da JBS. Segundo reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico, ele afirmou no anexo da delação premiada que a empresa pagava valores mensais a cerca de 200 fiscais do Ministério da Agricultura para que flexibilizassem a aplicação das regras sanitárias. As quantias seriam de R$ 1 mil a R$ 20 mil. Haveria uma relação dos servidores beneficiados com o esquema.
O Ministério da Agricultura não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, que promete ser munição extra à Operação Carne Fraca – deflagrada em 17 de março deste ano. Na próxima segunda-feira, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, tem encontro marcado com o titular da mesma pasta nos Estados Unidos, Sonny Perdue. Tentará convencer os americanos a retomarem as importações do produto brasileiro. E esse novo ingrediente pode fazer entrar água nas negociações entre as duas partes – até porque, o governo de Donald Trump tem sofrido reiteradas pressões de pecuaristas locais, preocupados com a concorrência externa.
Sobre a acusação feita por Wesley, o presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais Agropecuários (Anffa Sindical), Mauricio Porto, diz que, sem confirmação, "prefere não se manifestar":
– Essa tal lista de servidores vem sendo comentada há algum tempo. Mas não sabemos se tem um nome, dois ou 200. Também não temos informações se a totalidade é de fiscais.
Ele garante, no entanto, que a entidade é "totalmente favorável ao combate à corrupção" e que, em sendo comprovada ação ilegal de servidores, devem ser punidos. A Anffa emitiu nota na qual solicita que sejam "realizadas investigações para apurar a veracidade das informações repassadas por empresários ao Ministério Público Federal e à Procuradoria-Geral da República".
O presidente da Asssociação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, também cobra que os fatos sejam "profundamente esclarecidos" e diz desconhecer a prática que Wesley diz ser recorrente no mercado frigorífico.
Atualmente, o ministério conta com 2,6 mil auditores fiscais agropecuários, que atuam em diversas funções – há um déficit de 1,5 mil vagas. Desse total, cerca de 600 atuam especificamente na inspeção de produtos de origem animal. É por isso que as denúncias apresentadas precisam, sim, ser completamente esclarecidas. Para o bem de quem faz trabalho sério na inspeção e, principalmente, para a saúde do consumidor.