Assim como todos os Estados que fazem fronteira com outros países, o Rio Grande do Sul vai ficar de fora do mapa traçado pelo governo federal para iniciar o processo de retirada da vacinação contra a febre aftosa, a partir de 2018. A intenção do Ministério da Agricultura é definir, até o próximo mês, as regiões onde a última imunização deve ser a de maio de 2018. Serão cerca de 80 milhões de cabeças de gado que não receberão mais a agulha nesta primeira etapa.
O diretor do Departamento de Saúde Animal (DSA) do Ministério da Agricultura, Guilherme Marques, explica que, no caso gaúcho, o cronograma depende de um acerto com os países vizinhos. Para tentar assegurar que não haverá contato de animais imunizados e sem vacina, só será suspensa a aplicação em regiões onde há controle dos serviços veterinários brasileiros dos dois lados da divisa.
– Em relação ao Rio Grande do Sul, assim como nos demais Estados fronteiriços, isso passa por uma discussão regional. Não queremos voltar ao que aconteceu em 2000, quando o Brasil estava pronto mas foi atingido a partir de surtos no Uruguai e na Argentina – diz Marques, referindo-se à chegada do vírus no Rio Grande do Sul, que voltou a ocorrer no ano seguinte.
Embora prefira não arriscar um prazo, ele diz que, nas conversas travadas com os serviços veterinários dos países vizinhos, aparece a disposição de retirar a vacina em um prazo de aproximadamente dois anos, o que de certa forma coincide com os compromissos estabelecidos pelo Brasil com organismos internacionais. O planejamento que o Brasil pretende adotar será apresentado em abril, durante reunião da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), em Goiás.
Suspender a imunização e progredir para o status sanitário de livre de aftosa sem vacinação abre a possibilidade de o país avançar na exportação de carne suína e bovina em mercados considerados mais exigentes, e que, por isso, remuneram melhor. O chefe da divisão de defesa sanitária da Secretaria da Agricultura, Marcelo Göcks, avalia que o Estado está preparado. Resta o entendimento com o setor produtivo.
– Estamos prontos. Já manifestamos isso em diversas ocasiões. Sempre há alguma coisa para melhorar, mas conhecemos as questões que devem ser aperfeiçoadas – observa Göcks.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Carlos Sperotto, pondera que, embora seja desejo do setor produtivo no futuro retirar a vacinação no Rio Grande do Sul, o processo tem de ser conduzido com prudência.
– Isso deve ser feito sem riscos, para evitar o que ocorreu no passado. Mas deve haver análise prévia. Seria uma incoerência retirar sem discussão – diz Sperotto, que afirma ver resistência ao fim da vacinação no Uruguai, por exemplo, o que poderia dificultar a intenção posta pelo ministério.
Ponta de decepção no setor de suínos
No Estado, a possibilidade de evoluir para o status de livre de febre aftosa sem vacinação beneficiaria principalmente o setor de suínos que, pela grande oferta de animais, tem maior potencial exportador em relação ao de bovinos. Diversos países, como México e Coreia do Sul, pretendem abrir ou abriram o mercado para o Brasil, mas a exigência de não ter mais vacinação é um limitador. Até agora, apenas Santa Catarina detém essa condição no país.
O diretor executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos, Rogério Kerber, lamenta o fato de o Estado não integrar a primeira leva.
– Rio Grande do Sul e Paraná teriam condições (de retirar a vacina), até porque se preparam há mais tempo. Pelo menos o Brasil está começando a avançar. Isso é relevante – diz Kerber, também presidente do Fundesa.
O ministério deve marcar para abril uma reunião no Sul para ouvir sugestões para o plano proposto.
*Interino