A cada dia, uma nova entidade do agronegócio apresenta carta de repúdio ao samba-enredo da escola carioca Imperatriz Leopoldinense. Nesta quarta-feira, foi a vez da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) e da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) se manifestarem. O deputado federal Jerônimo Goergen (PP) irá protocolar uma moção de repúdio na Câmara.
A agremiação escolheu como tema Xingu, o Clamor que Vem da Floresta. Mas ao falar sobre a história do índio, deu espaço para a polêmica ao colocar o produtor na condição de vilão. Na letra do samba, fala sobre o monstro que rouba terras, devora matas e seca os rios.
E colocou ainda mais lenha na fogueira com a ala Fazendeiros e seus Agrotóxicos.
O barulho em torno do assunto tem movimentado as redes sociais, onde os argumentos se dividem em a favor e contra a escola. Mas o que se evidencia nessa discussão é uma questão antiga: o abismo entre o rural e o urbano.
O produtor ainda não conseguiu fazer a mensagem de seu trabalho chegar de forma clara à sociedade.
– Existe uma incompreensão. Grande parte dos brasileiros tem um pé no campo, parentes no Interior. Mas é desinformada sobre os aspectos tecnológicos da atividade – observa Jose Luiz Tejon Megido, diretor do Núcleo de Agronegócio da ESPM.
Em 2013, a instituição fez um estudo para conhecer a imagem que se tinha do agro. Ouviu 616 pessoas nas 12 cidades mais populosas do país – incluindo Porto Alegre. O resultado mostrou que a cidade reconhece a importância do setor, mas ainda se sente distante dele – 81,3% consideravam o segmento muito importante para a economia nacional.
Para Tejon, a escola carioca errou ao generalizar a imagem do homem do campo com a criação da ala Fazendeiros e seus Agrotóxicos:
– O belo monstro na letra é uma referência a Belo Monte (usina). Mas a ala é imprópria, discriminatória. Porque generaliza. Passa a ideia de que agricultores são envenenadores.
Consultora em agronegócio e professora da Fundação Getulio Vargas, Maria Flávia Figueiredo Tavares diz que a escola tem toda a liberdade para escolher seu tema, mas errou a mão no jeito que mostrou o produtor rural.
Para o ambientalista Francisco Milanez, da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), a Imperatriz tem licença poética para tratar do tema:
– As pessoas que não gostaram estão se posicionando, vestindo a carapuça. Tenho certeza de que produtores agroecologistas não se ofenderam com o enredo.
Diante de toda a repercussão, a Imperatriz Leopoldinense preferiu o silêncio. Não está se manifestando sobre o tema. Uma pena. Toda vez que não há comunicação, a mensagem fica truncada. Já dizia Chacrinha: quem não se comunica se trumbica.