Uma janela de oportunidade se abriu para o Brasil justamente na direção de onde cresce o apetite por carne bovina. A saída do Parceria Transpacífico tirou a vantagem que os Estados Unidos teriam, colocando os americanos na mesma situação que os brasileiros. Pelo menos essa é a avaliação da Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Agora, é preciso aproveitar a chance e adotar postura diferente da atual.
– O que aconteceu nos últimos dias mudou o cenário. Temos de trabalhar de maneira mais perspicaz – salienta Carlos Sperotto, presidente da Farsul.
A entidade concluiu estudo que mapeia as importações mundiais de carne bovina entre 2006 e 2016. O levantamento mostra que o Brasil pode estar gastando energia no lugar errado. A União Europeia vem encolhendo sua participação no mercado, que cresce exponencialmente na direção da Ásia.
– Temos uma visão muito eurocêntrica. Está todo mundo trabalhando para exportar carne para Europa, mas isso não faz mais tanto sentido como há 10 anos. Precisamos estar abertos aos mercados mundiais emergentes – pontua Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul.
E o avanço da Ásia veio puxado pelos chineses que, apesar de terem consumo per capita de 3,5 quilos – no Brasil, é de 30,7 quilos –, ampliaram de forma significativa as compras. Em 2006, a China importou 200 mil toneladas de carne bovina brasileira. No ano passado, o volume subiu para 1,1 milhão de toneladas. Em receita, a diferença é ainda maior: saltou de
US$ 741 mil para US$ 703 milhões – 94.717% a mais. Luz afirma que o país asiático se tornará o maior importador mundial do produto ainda neste ano ou no próximo, desbancando os Estados Unidos.
A penetração brasileira na Ásia nesses 10 anos, no entanto, é vista pela entidade muito mais como resultado de sorte do que de juízo. Para o economista, o Brasil precisa mudar sua atitude:
– Deveríamos buscar acordos com países semelhantes ao Brasil.
E para chegar a essa condição, o mantra da entidade é o de que país deve sair do Mercosul, abrindo caminho para os acordos bilaterais. Além disso, precisa estar ciente de que toda venda externa pressupõe uma importação. Ou seja: para avançar nos negócios, seria necessário abrir mais nossa economia.