A abertura de uma das mais importantes feiras do agronegócio brasileiro, a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), evidenciou o ânimo do setor com relação ao momento vivido pelo país. Embora a ordem fosse focar os discursos no que vem pela frente, não fazendo menção à crise política, implicitamente a preocupação com a paralisia causada pelo processo de impeachment apareceu.
No centro das atenções está o Plano Safra, que costuma ser divulgado no início de junho. O maior temor não é nem com o conteúdo do pacote deste ano, que já está todo ajustado, mas com a chancela efetiva do que foi acertado. E com a proposta do ano que vem, em um eventual cenário de mudança de governo e ajuste fiscal. Nesse caso, crescem as especulações de que as pastas voltadas ao setor primário - Agricultura e Desenvolvimento Agrário - sejam unificadas.
O único representante do governo federal presente na Agrishow era o ministro da Defesa, Aldo Rebelo. A titular da Agricultura, Kátia Abreu, não foi. Aliás, ela foi alvo de críticas por parte de ruralistas.
Presidente da Frente Parlamentar da Indústria de Máquinas, o deputado Jerônimo Goergen foi um dos que discursou nesta segunda-feira. Para tentar frear o clima de insegurança, diz que deve protocolar nesta terça-feira projeto de lei que estabelece um cronograma de apresentação do Plano Safra.
Nos corredores da feira, já se trabalha com a perspectiva de que haverá mudança de governo. Sem citar nominalmente a presidente Dilma Rousseff, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que "estamos virando uma página do país".
Resta saber, agora, como isso baterá nos negócios da feira, que espera repetir o resultado de R$ 1,9 bilhão do ano passado, nos próximos quatro dias.
Fogo amigo
O primeiro dia da Agrishow reforçou o distanciamento cada vez maior entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a ministra da agricultura, Kátia Abreu, que é presidente licenciada da entidade.
O atual presidente (vice de Kátia na eleição da CNA), João Martins, fez críticas indiretas à ministra.
Primeiro, em relação ao programa de seguro rural. Afirmou que a confederação tem proposta, mas "falta boa vontade do ministério para implementá-la".
Logo depois, citando a elaboração do próximo Plano Safra, afirmou que a entidade procurou, dessa vez, ouvir produtores de todas as regiões do Brasil antes de encaminhar as sugestões ao ministério:
– No passado, não ouvia ninguém.
Em tempo: o nome de Kátia Abreu não foi citado diretamente nenhuma vez no bate-papo com jornalistas. As referências a ela eram feitas como "amiga".