A afirmação de um dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) em cerimônia no Palácio do Planalto, na semana passada, fez com que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) saísse ontem da neutralidade e assumisse publicamente uma posição favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em nota, a entidade argumenta que pesaram na definição "o agravamento da crise política e econômica" e a manifestação feita pelo integrante da Contag "incitando a violência no campo por meio de invasão de propriedades rurais, na presença da presidente Dilma". Parte da confederação, a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) também emitiu nota.
– A declaração não foi a gota, foi o caneco de água para a mudança de postura, contribuiu de forma significativa – afirma Carlos Sperotto, presidente da Farsul.
Neste novo cenário, a entidade nacional entra em rota de colisão com a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que é presidente licenciada da CNA e, a despeito da saída do seu partido (PMDB) do governo, se manteve no cargo, dando apoio à manutenção do mandato da presidente.
Companheiro de chapa de Kátia na última eleição desta que é uma das mais importantes representações do agronegócio no país, o presidente da confederação, João Martins, foi questionado por jornalistas sobre a postura da ministra. Sem avaliar se ela ficará ou não à frente da pasta, afirmou:
– Não posso dizer que abandonou o produtor, mas se distanciou ao continuar a defender um governo que a cada dia mais está se desintegrando.
Por meio da assessoria, a ministra afirmou que, embora não concorde, respeita a decisão da CNA, que é independente e, por estar licenciada, não pode interferir nas definições tomadas.
Kátia e a confederação estão, temporariamente, em lados opostos e, ao mesmo tempo, precisam trabalhar juntas. Justamente por isso, as palavras são cuidadosamente medidas antes de serem ditas.