Prestes a realizar a assembleia com credores para apresentação do plano de recuperação, a gaúcha Camera tem nos números do primeiro trimestre do ano um bom argumento. O faturamento cresceu 60% no período, passando de R$ 96 milhões em 2015 para R$ 152 milhões neste ano.
– Viemos trabalhando na recuperação. Agora, estamos experimentando uma retomada mesmo – afirma Roberto Kist, diretor da empresa, mesmo que a base de comparação seja baixa.
O avanço em um ano de crise vem como uma boa notícia. O pedido de recuperação judicial foi feito em setembro de 2014. De lá para cá, a empresa mudou o perfil. Trocou a expansão e a industrialização por um pé no freio e uma retomada às origens no que diz respeito às negociações. Manteve o principal parque industrial, que é em Santa Rosa – onde também está a sede – e a planta de Santo Cristo.
Hoje tem 550 funcionários e irá receber 3,2 milhões de sacas de soja.
A unidade voltada à produção de biodiesel, em Ijuí, está parada, assim como a de processamento de soja, em São Luiz Gonzaga. Ambas estão, no entanto, contempladas no projeto de recuperação a ser apreciado no dia 3 de maio na assembleia de credores.
A primeira poderá ser retomada no segundo semestre de 2017. Na segunda, o planejamento é para que possa começar a receber a safra de soja do próximo ciclo de verão (2016/2017).
– Esse é um plano que depende muito das condições de aprovação e do apoio para a execução – pontua Kist.
Se aprovado, tem prazo de dois anos para ser colocado em prática. Cerca de 30% dos ativos serão levados à venda. O pacote de recuperação leva em consideração o turbulento cenário macro econômico e político do Brasil.
Com origem em um negócio familiar, há mais de 40 anos, a Camera resolveu dar um passo além na condição de cerealista e iniciar um processo de expansão industrial, que foi concluído em 2011. Mas a seca de 2012 cobrou o seu preço e interrompeu o crescimento.
Por isso, embora trabalhe com a perspectiva de retomar negócios parados, a empresa manterá o foco nos grãos, com a indústria sendo relevante, mas com peso proporcional, para garantir uma reestruturação sustentada.