Teve quem venceu a eleição apesar da cheia, teve quem perdeu principalmente por causa dela. Olhando para a frente, os próximos quatro anos trarão desafios e oportunidades para os prefeitos pós-enchente. Isso vale para todos os cinco deste segundo turno da eleição, mesmo aqueles das cidades pouco ou nada atingidas pela tragédia de maio.
Em Porto Alegre, a candidatura do prefeito Sebastião Melo (MDB) à reeleição ficou mais complexa. Foi a maior cobrança que enfrentou, tendo que dar explicações e convencer sobre o que faria para evitar um novo estrago na Capital. A rejeição à sua adversária, Maria do Rosário (PT), fez com que fosse apoiado mesmo pelo empresariado severamente prejudicado pelos alagamentos. Melo ganhou uma nova chance para garantir que o sistema de proteção funcione e ainda melhorá-lo. Também precisa retomar a toada de revitalização do 4º Distrito, que ainda sofre pelo que a água causou, e reviver um Centro Histórico que mingua, promessas suas de campanha.
Aqui ao lado, Canoas tirou Jairo Jorge (PSD) sob forte rejeição e após uma condução muito questionada da crise da enchente. O vencedor, Airton Souza (PL), é empresário do setor gráfico, sabe que precisa dar segurança aos empreendedores ressabiados pela cheia e pela campanha tumultuada. Há, ainda, um abismo econômico que se acentua entre o lado da cidade mais alagada, com áreas destruídas, e o que não foi atingido, já em desenvolvimento mais acelerado antes mesmo da tragédia.
Cidades menos atingidas pela enchente - ainda que com estragos do excesso de chuva - têm oportunidades na reconstrução do Estado. Adiló Didomenico (PSDB), reeleito em Caxias do Sul, terá a chance de fazer decolar o aeroporto de Vila Oliva, que promete ser o "backup" do governo do Estado, do seu partido, para um eventual novo fechamento do Salgado Filho, em Porto Alegre. O governador Eduardo Leite já prometeu bancar o que faltar de recurso federal. Ainda que mais incipiente, Rodrigo Décimo (PSDB), eleito em Santa Maria, também colocou um novo aeroporto regional entre as suas propostas.
Para fechar, em Pelotas, Fernando Marroni (PT) tem do seu lado o governo federal, fonte maior de recursos. Porém, precisa olhar com mais nitidez as apostas que fez na campanha para desenvolvimento econômico da região Sul: não há garantia de que haja mesmo petróleo na Bacia de Pelotas; o polo naval segue com sérios problemas e milhares de demissões; e os projetos de energia eólica serão destravados somente quando surgir uma fonte segura de crédito barato para competir com o nordeste do país.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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