Saiu finalmente o anúncio das linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para socorrer empresas de todos os portes atingidas pela enchente no Rio Grande do Sul. Os R$ 15 bilhões têm financiamento para compra de máquinas, obras de construção civil e também para capital de giro. A promessa agora de ministros era de "juro baixíssimo", mas será que é mesmo?
Entre os agentes financeiros gaúchos com quem a coluna conversou, a dúvida é de quanto será o spread bancário, que é o custo da operação cobrado pela instituição financeira que repassará o recurso do BNDES. É a diferença entre o juro que ela paga para captar o dinheiro e o que ela cobra de quem toma o empréstimo. O seu percentual será somado ao custo dos empréstimos, que varia entre 1%, 4% e 6% (veja abaixo).
Gerente de Produtos Sebrae RS, Augusto Martinenco estima que o spread fique no máximo em 7%, mas reforça que dependerá do banco ou cooperativa que será o repassador. Os bancos de fomento, historicamente, colocam 3% ou 4%, lembra. Já os bancos comerciais, mesmo os públicos, cobram 6% ou 7%.
- Mas é importante que o governo, através do BNDES, não tenha feito a indexação do custo do dinheiro pela Selic, que está em 10,5% ao ano. Quando ele diz, por exemplo, 1% mais o spread, é uma boa notícia, de fato é um incentivo relevante - comenta.
Então, o juro é mesmo baixo e há carência para iniciar o pagamento. Para se ter uma ideia, empréstimos para capital de giro de empresas estão com taxa anual média de 24,02%.
Mas o juro não veio zerado, como chegou a ser prometido na enchente de setembro de 2023. Economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA), Oscar Frank ainda acha que o recurso para a reconstrução do patrimônio deveria ser a fundo perdido, ou seja, dinheiro que não seria devolvido. Fala em uma espécie de "bolsa reconstrução", uma referência ao "Bolsa Família", mas por prazo e com uso determinados.
- Temos tecnologia para identificar os atingidos via imagens de satélite, o que ajuda na focalização da política - complementa.
Linhas de crédito e condições:
- Compra de Máquinas, Equipamentos e Serviços
Taxas: custo base 1% a.a. + spread bancário
Prazos: Até 60 meses com carência de 12 meses
- Financiamento a Empreendimentos: projetos customizados incluindo obras de construção civil
Taxas: custo base 1% a.a. + spread bancário
Prazos: Até 120 meses com carência de 24 meses
- Capital de Giro Emergencial
Taxas: custo base 4% a.a. para Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) e 6% a.a. para grandes empresas + spread bancário
Prazos: Até 60 meses com carência de 12 meses
*Limites por Operação: R$ 300 milhões para linhas de investimento produtivo (1 e 2 acima); R$ 50 milhões para capital de giro emergencial de MPME; e R$ 400 milhões para capital de giro emergencial de grandes empresas.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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