Tanto as exportações quanto as importações gaúchas à Argentina seguem despencando. No acumulado do primeiro bimestre do ano sobre o mesmo período do ano passado, os embarques do Rio Grande do Sul ao país vizinho recuaram 17,2%, para US$ 122 milhões. É um quinto do que foi vendido à China. A maior influência na queda, disparada, foi da venda de máquinas e equipamentos para agricultura e pecuária (US$ 12 milhões, -81,3%).
Segundo os dados do governo federal, detalhados pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), as importações caíram ainda mais, com recuo de 21,3%, para US$ 317 milhões. A redução foi puxada por óleos brutos de petróleo e automóveis de passageiros.
A crise da Argentina tem puxado o resultado bem negativo nas exportações (-8,3%) e importações (-28,4%) gerais do Rio Grande do Sul. O país é o terceiro principal destino dos produtos daqui, atrás de China e Estados Unidos, que compraram mais do que em janeiro e fevereiro do ano passado. É também a segunda principal origem das importações, perdendo apenas para os Estados Unidos, de onde os gaúchos estão comprando mais.
Não se esperava que os sérios problemas da Argentina fossem resolvidos da noite para o dia pelo presidente Javier Milei ou outro que fosse eleito, mas quem decide fazer negócios com o país vizinho está retrancado. Ainda há exportações do ano passado que não foram pagas, pois dólares foram retidos pelo governo para evitar desvalorização maior do peso. As movimentações envolvendo a safra de verão, especialmente de soja, começarão em breve, alerta o presidente da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), Francisco Cardoso.
— A partir de abril e maio, há as colheitas, novas exportações, novos câmbios, talvez entrem mais US$ 10 bilhões ou U$ 15 bilhões. O governo tem que realmente passar confiança de redução do déficit fiscal, que é âncora da solução dos problemas. Isso transmite confiança para quem tem dinheiro para emprestar e investir no país — detalhou.
O novo governo realmente conseguiu dois superávits fiscais mensais seguidos agora em 2024, o que ocorreu pela primeira vez em mais de uma década. A inflação anual, porém, segue em três dígitos e a taxa pobreza na Argentina atingiu 57%. O impacto social da alta de preços é grande, alerta o embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli.
— A expectativa é de que a inflação desacelere, mas a situação é complexa. Os salários não acompanham o ritmo e os níveis de pobreza são bastante preocupantes. Obviamente a preocupação com a economia é legítima pela situação do país, mas o impacto social está muito grave — diz.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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