A frase de Javier Milei "No hay plata" (Não há dinheiro), seguida por uma pausa dramática, não trouxe calafrios apenas aos argentinos no discurso de posse do seu novo presidente. Brasileiros — entre eles, muitos gaúchos — estão à espera de pagamentos. Só a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) calcula em US$ 2 bilhões a dívida de fretes desde abril de 2023, quando o banco central argentino mudou as regras para evitar saída de divisas e desvalorização ainda maior do peso em relação ao real. Considerando as importações, o valor vai a US$ 30 bilhões, já que o pagamento não foi autorizado pela autoridade monetária e os exportadores do mundo acabaram "financiando" as empresas argentinas.
Havia uma expectativa de que fosse algo de campanha e a liberação ocorresse passada a eleição. Porém, Milei já foi claro: as coisas vão piorar antes de melhorar. Então, o prazo de até dois anos pedido por ele para dar resultados não é apenas para argentinos. Não quer dizer que os pagamentos ficarão represados até lá, mas não há solução rápida, mesmo que o novo presidente diga que "há luz no final do caminho".
— Não há dinheiro e vontade de organismos financeiros ou investidores para financiar a Argentina enquanto não haver um ajuste fiscal. Esperamos uma melhora em maio — afirma Francisco Cardoso, presidente da ABTI, que está acompanhando de perto a situação, com reuniões em Brasília e idas à Argentina.
Entre previsões sombrias, porém, criticou e afastou a ferramenta da emissão de dinheiro pelo banco central, o que costuma ser usado como saída na crise, mas sempre é prenúncio de inflação e alta de juro. Também afirmou que o ajuste recairá sobre o Estado e não o setor privado. A conferir.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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