A empresária mais conhecida do país, Luiza Helena Trajano ainda acha que o Banco Central deveria ser mais agressivo no corte do juro e reforça que o varejo movimenta a indústria, defendendo a igualdade de concorrência com sites estrangeiros. Na entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, a presidente do conselho de administração do Magazine Luiza analisou o momento da economia e pediu presença maior de mulheres no comando dos negócios. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Temos política de redução de juro, reajustes de salários acima da inflação e queda do desemprego. A venda do varejo vai aumentar em 2024?
Se realmente a taxa de juro continuar baixando, mas eu ainda acho 0,5 ponto percentual pouco. Em um país em desenvolvimento como o nosso, que não tem dinheiro para colocar na economia, ela vive de duas coisas: renda e crédito. Da onde vem a renda do Brasil? Do salário do trabalhador. Cada vez que você baixa o juro, injeta dinheiro na economia através do emprego, do 13º e de outras coisas. Automaticamente, o primeiro que recebe é o varejo, que movimenta a indústria. Se o varejo não vende, a indústria também não. Estão falando que pode voltar a inflação, o primeiro que sofre é o varejo, atingindo toda a cadeia, e o pequeno e o médio sofrem muito mais do que o grande. Já fui pequena, já fui média e já sou grande. Pequeno e médio são quem gera emprego no país. Na Europa, são muito mais respeitados.
Como está a concorrência com os sites estrangeiros?
Eu sei que o público acha que os comerciantes estão fazendo isso (pedir isonomia de impostos) para ganhar mais. Mas não queremos pagar o que os sites não pagam, porque nós que geramos emprego. Brincamos que "não pagar imposto é um negócio da China". Algumas medidas já foram tomadas pelo ministro (da Fazenda), Fernando Haddad, mas não é para prejudicar. Vai continuar a livre concorrência, que é a melhor coisa que tem, mas que tenhamos os mesmos direitos. Não é para aumentar o preço deles, é para diminuir o nosso.
Como é o trabalho no Grupo Mulheres do Brasil, que incentiva líderes femininas?
Temos muito ainda para conquistar. Não somos contra homens, mas somos a favor das mulheres. O estilo de gestão das empresas mudou e a covid-19 acelerou isso. Os homens viveram a gestão mecânica. Não podia falar que estava mal, que não sabia. A gestão passou a ser mais orgânica, hoje você pode falar de intuição, tem que falar de sensibilidade, fazer 10 coisas ao mesmo tempo. Estamos preparadas, porque somos desenvolvidas biologicamente. Tivemos filho, precisamos fazer uma coisa e outra.
Como é a política salarial no Magazine Luiza?
É uma empresa dirigida por mulheres desde que se fundou. Não temos nem esse conceito de o que é mulher e o que é homem, para nós não existe isso. É um absurdo mulher ganhar 20% ou 30% a menos.
Qual sua dica para mulheres que são funcionárias ou empreendedores e enfrentam obstáculos no mercado de trabalho?
Eu vim novinha do Interior, no meio de muitos homens. Acho que não devemos bater de frente, mas não deixar passar. Tem que confrontar com inteligência, com estratégia, se unir a movimentos que trabalham isso. Não brigar de forma agressiva, mas não se calar. Nunca deixei de confrontar o que não achava legal. Quando eu vinha para São Paulo para falar do Magazine Luiza, ainda uma empresa desconhecida, só lidei com homens. Quando não me davam confiança eu falava: "Por favor, eu quero falar. A minha opinião é muito importante".
Ouça a entrevista completa:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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