A inteligência artificial será pauta, claro, do Fronteiras do Pensamento de 2024. A coluna conversou no Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o curador do evento, o filósofo e cientista político Fernando Schüler. Assista um trecho acima e leia outros abaixo.
Até onde a inteligência artificial substituirá trabalhadores?
Às vezes, você usa uma expressão, que eu confesso que não gosto muito, que é o tal do "desemprego estrutural", porque existe na economia um processo de destruição criadora. Profissões desaparecem, outras surgem. Quanta profissão nova a tecnologia gerou e vai gerar? Só a inteligência artificial, todo o processo de automação, demanda muita gente. Agora, o ritmo entre ter a destruição do emprego, criar novos, formar pessoas, treinar e adaptar ao mercado... É um processo social difícil.
Que, dependendo do país, não consegue fazer essa preparação da pessoa do emprego fechado para que assuma a vaga aberta....
Tem inclusive impactos políticos. A indústria automobilística norte-americana se desloca para o Exterior, tem desemprego nas regiões. Há um ressentimento social muito grande, queda da qualidade de vida e pessoas ficam para trás. Em geral, a sociedade avança com o processo tecnológico. O progresso não pode ser interrompido, mas tem custos e é preciso refletir. A criação de humanoides pela inteligência artificial vai substituindo gradativamente o trabalho humano mais braçal. Isso é ótimo, a tecnologia nunca para, mas o problema é como que se adapta, o ritmo, como treinar as pessoas, quais são os custos sociais.
As pessoas já têm discutido a urgência equivocada posta pelo WhatsApp e a ansiedade gerada pela tecnologia. É uma tentativa de retroceder um pouco?
Nada é mais precioso para cada um do que seu próprio tempo. Depois de 2010 e 2011, você tem um crescimento da angústia, da depressão global e de suicídios, especialmente entre jovens mulheres. Ainda sem personalidade formada, estão mais vulneráveis à tecnologia, acabam em um processo de isolamento. Você está conectado com o mundo inteiro, mas está sozinho às vezes no seu quarto. Começa a ter dificuldade de relacionamento interpessoal, perda de sentido de comunidade global. Se você colocar na rede social uma mensagem adversarial, ou seja, contra alguém e agressiva, você tem 67% mais chance de que ela seja compartilhada, que impacte e engaje. Então, há uma indução da própria tecnologia à agressividade e não para reflexão, ponderação, geração de consenso, algo construtivo. Por isso, estamos nesta selva toda. Tem o ramo a economia da atenção, que estuda isso.
Difícil mantê-la.
O que é o algoritmo na verdade? Uma indústria toda focada em capturar a nossa atenção. Reduz a capacidade de uma pessoa ouvir uma palestra. Eu dou aula e sei que hoje o aluno tem dificuldade de escutar uma mais longa, ler um texto mais longo. Daqui a pouco, toca uma mensagem, mesmo que no silencioso, você demora para voltar a um "flow" (fluxo) de atenção. É um enorme problema.
Colaborou Maria Clara Centeno
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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