Concorrência com a China, proteção da indústria brasileira e negócios da gigante do aço no Rio Grande do Sul foram temas da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck. Ele esteve no estúdio do Grupo RBS no South Summit, evento de inovação em Porto Alegre. Confira trechos abaixo e ouça a íntegra no final da coluna.
Como a empresa vê o momento econômico?
Os 123 anos de história da Gerdau nos mostraram que sempre temos que olhar as coisas em horizonte de mais longo prazo. Estamos passando aqui no Brasil por algumas dificuldades momentâneas, mas achamos que isso é normal dentro de um novo governo, dentro da transição democrática que tem no Brasil. Olhamos questões como reforma tributária e administrativa, de que forma favorecerão os negócios da Gerdau nos próximos anos. Olhamos o projeto da nova indústria lançado recentemente pelo vice-presidente (Geraldo) Alckmin, como sinal de que poderemos competir de uma forma mais isonômica com o mundo.
Como está a competição com a China?
É uma grande dificuldade, uma grande preocupação. A China está mudando o modelo de negócio da infraestrutura e do mercado imobiliário para uma economia mais verde, de incentivo ao consumo interno. Para financiar essa transação, está exportando como nunca. O aço é um exemplo e chega aqui no Brasil com preço menor do que o custo de produção, subsidiado. É impossível competir.
Isso é dumping, gerando concorrência desleal. Vocês estão falando com o governo federal?
Sim. Há tempo. Não gostamos de falar que precisa de proteção, mas sim de defesa comercial. Países como México, Estados Unidos e do bloco europeu já colocaram medidas de defesa comercial e o Brasil ainda não o fez. É um debate contínuo com o governo federal, especialmente com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). Temos a certeza de que em breve vamos encontrar um caminho para que essa competição desleal não tire empregos do Brasil, do Rio Grande do Sul, em detrimento de empregos na China.
Já afeta os investimentos no Rio Grande do Sul?
No curto prazo, estamos mantendo o nosso programa de investimento, que é o mais relevante em muitos anos. Temos desembolsado cerca de R$ 5 bilhões por ano, inclusive aqui. Mas estamos olhando com muita atenção o futuro do Brasil. Se não encontrarmos as condições necessárias para continuar investindo, certamente as decisões de alocação de capital da companhia vão olhar com mais atenção para o México, para os Estados Unidos, onde aí sim encontramos ambiente adequado na indústria para desenvolver nossos negócios.
E a Argentina?
Estamos aguardando para ver como o novo governo melhorará as condições econômicas do país. Estimados um prazo de dois anos para se ter uma ideia para decidir sobre negócios.
A empresa está participando dos leilões para comprar as plataformas antigas da Petrobras, desmontá-las em Rio Grande e usar o aço como matéria-prima reciclada nas usinas. É uma quantidade relevante?
Uma plataforma dessas gera sucata para quase um mês de produção em uma das nossas usinas aqui no Rio Grande do Sul. Essa de agora é uma das mais de 40 plataformas que queremos, no futuro, desmontar. Espero vencer os próximos leilões e trazer todas para cá.
Estamos em um evento cheio de startups. Várias sonham em fazer negócios com a Gerdau. Como elas podem apresentar seus produtos?
É a coisa mais fácil do mundo. Se não conseguirem acessar ninguém da Gerdau, podem me chamar pelo LinkedIn que certamente vou criar as condições necessárias. Várias pessoas me chamaram pela rede social e acabaram conectadas à estrutura empresa, sendo parceiros importantes para nós.
Por exemplo?
Vou dar um exemplo que foge do tradicional, mas está diretamente relacionado aos investimentos sociais da Gerdau. Uma empreendedora me conectou por LinkedIn dizendo que tinha um sonho de montar uma plataforma que valorizasse produto local. Nós introduzimos essa pessoa ao Instituto Gerdau e hoje temos uma parceria que está ajudando a vender para o Brasil e para fora a cultura gaúcha.
Ouça a entrevista completa:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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