Na finaleira do ano, a prévia da inflação oficial surpreendeu as projeções do mercado, puxada pelas passagens aéreas. Calculado pelo IBGE, o IPCA-15 veio em 0,40% em dezembro, quase o dobro do previsto. Já se esperava um aumento pelas companhias de aviação, o que tradicionalmente ocorre na época de férias, mas ele veio bem maior. Em um mês, os tíquetes subiram 9,02%, mais do que o dobro da inflação de um ano. Em uma entrevista sobre medidas econômicas nesta quinta-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a citar as passagens aéreas como preocupação do governo federal.
— Elas já estavam caras há quatro meses e subiram 65%. É um impacto muito forte no IPCA — destacou Haddad.
Aliás, a disparada acima do normal ocorre em meio a negociações e discursos do governo para achar uma forma de reduzir os preços. O Ministério de Portos e Aeroportos chegou a anunciar há poucos dias, junto das maiores companhias aéreas do país, as primeiras medidas, elaboradas aos trancos e barrancos e ainda gerando dúvidas sobre a efetividade na ponta, ao consumidor.
Má qualidade
Ainda na inflação, houve alta em um grupo de itens que o Banco Central observa para decidir sobre a taxa de juro Selic, que inclui seguro e alimentação fora de casa, o que acendeu um alerta amarelo para o mercado. Economista da Quantitas Asset, João Fernandes observa que, pior do que acima do previsto, o IPCA-15 veio de má qualidade com o aumento destas despesas específicas.
— Em magnitude, parece pouco importante, mas a qualidade foi ruim. Não é o que o Banco Central quer ver — pondera o economista.
Ainda assim, a inflação não é, neste momento, um problema no Brasil e tem muita coisa para acontecer em 2024, mas indicadores assim afastam um corte mais intenso e mais prolongado dos juros.
— O dado em si não deve impedir o Copom (Comitê de Política Monetária) de continuar com corte de 0,5 ponto percentual, mas tende a fechar o espaço para o uso do plural para os próximos passos da política monetária na reunião de janeiro — diz Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, referindo-se ao último comunicado da autoridade monetária, no qual falou que a redução deveria se manter na mesma magnitude nos próximos encontros.
Por que o ritmo da Selic é importante? Porque é a aposta para a retomada da economia, do corte das taxas do financiamento imobiliário à retomada de investimento pela indústria brasileira, que patina e não consegue recuperar o patamar pré-pandemia.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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