O novo secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, assume querendo dar continuidade a alguns projetos que avançaram nos últimos anos, como o Fundo Operação Empresa (Fundopem), além focar em outras demandas do Estado. Em entrevista ao programa Acerto de Contas (domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha), ele falou dos planos de incentivar o setor de proteína animal, encontrar novos mercados para produtos gaúchos e de avançar com a discussão sobre irrigação. Confira trechos abaixo e o áudio na íntegra no final da coluna.
Quais são os seus primeiros planos para a secretaria?
Nós estamos nos apropriando de toda a estrutura, trabalho e responsabilidade dessa importante secretaria, que trata do desenvolvimento de todos os segmentos da economia gaúcha. Na verdade, estamos trabalhando, e o próprio governador Eduardo Leite tem dito isso, em uma evolução da evolução. É um governo que se dá continuidade. Muitas políticas públicas que já foram implementadas recentemente serão continuadas, sempre tentando melhorar. Com o secretário Joel Maraschin e o secretário Edson Brum, houve muitas mudanças positivas na estrutura da secretaria. Isso tem provocado resultados positivos, tanto é que os investimentos no próprio Fundopem aumentaram muito agora nesses últimos anos.
O Fundopem teve uma alteração recente, com simplificação, dando um balanço positivo na aprovação de projetos. O senhor pretende dar continuidade a isso?
Com certeza a gente vai buscar. Ouvindo segmentos, porque é uma pasta que precisa estar conectada com o setor privado através das entidades, como Fiergs, Fecomércio, Federasul, Transforma e o Instituto Caldeira. Essa conexão com o setor privado é fundamental. A partir daí, quando chegarem sugestões de aprimoramento, de melhoramento, obviamente que sempre estaremos abertos para aperfeiçoar ainda mais aquilo que já foi melhorado.
Você vê algum segmento que precisaria de uma ajuda mais rápida?
Temos um setor que é importante para o nosso Estado, de proteína animal e produção de alimentos, que está no nosso radar. É um trabalho concentrado principalmente na abertura de novos mercados. O Rio Grande do Sul, nos últimos anos, melhorou seu nível sanitário. Nós alcançamos o status de livre de febre aftosa sem vacinação, o que possibilita chegar em mercados onde, no passado, não tínhamos acesso. Agora, o que precisamos é levar os nossos produtos, mostrar a nossa produção, que é de alta qualidade, a esses mercados. Nesse sentido, já estamos planejando uma missão focada na proteína animal, no setor de carnes, para países que têm possibilidades legais e sanitárias de comprar o nosso produto, mas que ainda não temos relações comerciais.
Quais países?
Temos a possibilidade de acessar mercados como o Japão e Coreia do Sul, em que outros Estados já estão se movimentando. O Rio Grande do Sul também precisa chegar, porque a nossa produção é de alta qualidade. Precisamos fazer esse movimento junto com a Secretaria da Agricultura. Já conversei com o secretário Giovani Feltes para fazermos uma ação coordenada de levar e mostrar os nossos produtos a esses países. Tem uma outra ação, que conversei com o governador Eduardo Leite durante as tratativas que tivemos para assumir a secretaria, de estruturar uma agência de promoção dos produtos gaúchos para mostrar a qualidade. A nossa diversidade de produção é muito grande e isso precisa ser mostrado, seja para os outros Estados como para outros países. A ideia é o setor público fomentar a criação de uma agência com o setor privado, que pilotará isso. Acho que esse é um desafio que temos pela frente nos próximos anos: fazer essa estruturação, prospectar e impulsionar os nossos setores produtivos.
O senhor pretende avançar na proposta do Fundopem da Irrigação?
Eu tenho acompanhado (esse assunto). Está sendo estruturada a melhor forma de implementar um programa de estímulo e de incentivo a irrigação, com apoio, especialmente, para os equipamentos. A Fazenda tem um grupo trabalhando nisso para ver a forma legal de se fazer. Nós temos uma outra ação que já avançou, mas que precisa andar mais, que é a flexibilização da armazenagem de água. Hoje temos muitas restrições para armazenar água. Nós vivemos uma dicotomia. Temos água sobrando pelo volume de chuvas, e água faltando porque a gente não consegue armazenar. Esse trabalho já vem sendo realizado pela secretária do Meio Ambiente Marjorie Kauffmann, junto com a Secretaria da Agricultura, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e o Ministério Público. Já se deu passos importantes no sentido de esclarecer a atual legislação, mas ainda temos uma necessidade de mudar a lei, o código florestal federal e o estadual, criando a condição de que água para irrigação seja considerada de interesse social e utilidade pública. São duas situações para fazer a irrigação: água e o equipamento de irrigação. Então vamos nessa ideia de haver incentivo fiscal para os equipamentos, mas também vamos ter que trabalhar forte nessa condição para o agricultor armazenar água.
Então a discussão deve continuar na sua gestão?
Deve continuar, com certeza. Vamos levar adiante para tentar estruturar esse programa, porque vai ajudar o produtor a implantar o sistema de irrigação através dos equipamentos. A irrigação traz estabilidade. Agora há novamente uma seca, com prejuízos muito grandes em várias regiões do Estado. O prejuízo não é só do produtor. Diretamente, o produtor perde, mas, na verdade, indiretamente toda a sociedade perde porque o nosso Estado é agro. Quando não tem produção, é menos transporte, menos oficinas. Tudo tem um efeito cascata negativo.
Tem alguma pauta da Secretaria de Desenvolvimento Econômico para o comércio?
Eu acredito que sim. Nós vamos procurar essa aproximação, principalmente porque temos o papel de fazer essa interlocução com as demais áreas, seja com a Fazenda ou com o Meio Ambiente. Um dos nossos focos é tentar desburocratizar e simplificar mais os processos. No momento que nós fizermos isso, estaremos dando melhores condições aos empreendedores, independente do setor. A própria Junta Comercial já avançou muito no sentido de simplificar a abertura de empresas. Nós temos o Tudo Fácil Empresas para simplificar a vida do empreendedor. A burocracia, quando exagerada, cria um custo alto ao empreendedor. Esse é um papel importante que vamos trabalhar: essa conexão da liberdade econômica, desburocratizar e também envolver a inovação. Então, a gente quer fazer um trabalho de valorização e apoio à inovação junto com a Secretaria de Ciências e Tecnologias.
Já se tem ideia de colocar a secretaria de Desenvolvimento Econômico dentro desse processo de geração de energia verde no Estado?
Pela importância e pela relevância do tema, a secretaria precisa estar presente. Tenho acompanhado as tratativas que estão sendo feitas nesse sentido. O mundo precisa de mais energia. Esse é um caminho e nós temos essa condição, seja pelo hidrogênio verde ou pelas outras fontes de geração de energia que são, também, potenciais importantes no Estado, como a eólica e a solar. Nós temos potencial grande, também, na própria biomassa, energia de florestas plantada, e na energia hídrica. Devo receber nos próximos dias um estudo de potencial das pequenas centrais hidrelétricas. Hoje nós temos algumas limitações para implantar projetos de pequenas centrais hidrelétricas em algumas regiões do Estado. Elas provocam baixo impacto ambiental, porque não são grandes áreas alagadas. São pequenas gerações, mas que no somatório produzem um volume significativo de energia. Recebendo esse levantamento, vamos trabalhar com o Meio Ambiente para ver o que é possível avançar. A gente quer dar apoio em todas as áreas, seja na hídrica, na solar, na biomassa, no hidrogênio verde, pois é uma agenda do governo.
Tem em vista algum projeto específico que o senhor pretende abraçar?
Nós precisamos estar abertos a todas demandas e necessidades que surgirem. Eu estou agora buscando informações com o secretário Joel Maraschin para me inteirar de tudo aquilo que está em andamento para darmos sequência. Naturalmente a gente luta para que empreendimentos grandes aconteçam, mas sabemos que não é em todos os lugares que você consegue colocar um grande empreendimento. A nossa base estrutural é feita de pequenos empreendimentos que dão um grande volume de emprego. Temos que trabalhar com a linha desde o pequeno, o médio e o grande investimento. Outra ideia é tentar desenvolver um programa, principalmente para cidades menores, de apoio a criação de distritos industriais, de berçários industriais. Temos ainda muitos municípios que não tiveram condições de ter um berçário industrial para colocar e dar oportunidade àqueles empreendedores que estão lá. Normalmente, os investimentos maiores acabam sendo direcionados para grandes centros. Nós temos um compromisso de trabalhar e tentar desenvolver o Estado como um todo, que é a própria filosofia do Fundopem. Estamos pensando, junto com os bancos de fomento, em criar algumas linhas para que as pequenas cidades, independente do tamanho, possam ter um distrito industrial. O grande dilema dos gestores municipais é gerar emprego. Muitos municípios sonham em trazer uma grande empresa, mas na prática é muito difícil de acontecer. Então se você estimular pequenos negócios, eles, no somatório, geram um número importante de oportunidade de trabalho. Esse é um foco que também queremos trabalhar.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br) Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna