Viajar pelo mundo trabalhando remotamente é sonho para muita gente. O empresário Michel Jasper e a servidora pública Suzi Possenti venderam tudo que tinham no Rio Grande do Sul e partiram para rodar o globo. Parte da rotina é semelhante, com horas normais destinadas ao trabalho. Mas, terminado o expediente, há sempre lugares novos para serem explorados. O casal contou a sua aventura ao podcast Nossa Economia, de GZH. Confira trechos abaixo e o áudio na íntegra no final da coluna:
Onde estão hoje?
Michel: Estamos fazendo um tour pelos Estados Unidos, costumamos ficar 30 dias em cada país.
Por onde já passaram e como organizam a rotina?
Michel: Estamos nessa vida há mais ou menos um ano e quatro meses. Largamos tudo, vedemos casa e carros. Não temos local fixo para voltar. Existe a minha empresa, claro, que tem um escritório, mas com funcionários em todo o Brasil. Começamos a viajar pela América Latina, por causa do idioma e questões culturais. Subimos a partir da Argentina até chegar na América Central, onde fizemos um país por mês até chegarmos aqui nos Estados Unidos. Esse sistema é interessante porque conseguimos organizar melhor, economizar e não fazer voos tão longos.
Suzi: Nós dois temos uma estabilidade financeira boa. Eu já trabalhava em home office antes da pandemia e morava em outras cidades que não eram a sede do meu trabalho. Então, um dia chegamos à conclusão de "por que que estamos aqui sendo que tudo pode ser feito online?". O Michel praticamente já atendia os clientes todos no online. Fizemos tudo em 20 dias. Nos livramos de casa, carro, móveis, de tudo. Ficamos só com duas malas, uma de roupa e uma de computadores.
Qual foi o gatilho da decisão?
Suzi: Era o meu sonho conhecer o mundo, mas antes do teletrabalho só conseguia sair nas férias. Depois, quando fui morar no Rio Grande do Sul (Suzi é paranaense), eu e Michel planejávamos sair.
Michel: Já viajávamos muito. Todo final de semana, eu ia para Gramado. Quando dava, íamos para fora do Brasil. Hoje, toda a minha empresa trabalha remotamente, não faz sentido estarmos em um local só, em uma casa, com dois carros e tudo mais. Ficamos quatro meses no Brasil, no Nordeste, em Santa Catarina, rodando um mês em cada Estado até a redução nas restrições do Exterior.
O que disseram os familiares e amigos?
Suzi: Eles ficam com saudades, mas sempre apoiaram. Uma vez por ano voltamos para revê-los e matar a saudade.
Michel: Isso acontece normalmente no mês de setembro, daí ficamos 30 dias no Brasil. Como somos de Estados diferentes, fazemos um translado. Talvez quando fomos à Ásia, teremos que voltar a cada um ano e meio, porque é do outro lado do mundo.
Tem um prazo para a aventura?
Michel: Enquanto estivermos felizes, bem de saúde, tranquilos, sem dúvida vamos continuar. Não temos nenhum planejamento de voltar. Vamos ficar aqui nos Estados Unidos até a metade de janeiro e depois vamos para a Europa. Depois, para a Ásia. Mas não nos planejamos muito. Olhamos os próximos meses e dizemos "ah, vamos para tal local, um que é perto, um que é tranquilo". Compramos passagem, nos programamos e vamos. Como viajamos só com mala de mão, acaba sendo tranquilo.
Suzi: Quando queremos ir para um país, pesquisamos sobre ele, mas pode não ser uma boa época. Daí mudamos e vamos para outro.
Como escolhem para carregar tão pouca coisa?
Suzi: Para mim, é bem difícil. Para o Michel, foi muito mais fácil. Para homem, é mais fácil, né? Duas calças, algumas camisetas e dois casacos já é suficiente. Eu sofri mais. Naqueles 20 dias, a última coisa que eu deixei para me desfazer foram as minhas roupas. Eu doei a maioria. Para facilitar para lavar roupa, eu trago apenas peças escuras, calças básicas que combinam com tudo. Temos apenas uma muda de roupa de frio. Usamos muito segunda pele quando faz frio. Nem pijama eu tenho.
Michel: É tudo muito contado. Fizemos duas mochilas, porque a gente trabalha normalmente. No final do dia, é quando a gente sai para passear, nos finais de semana também. Aí precisamos de uma mochila só para o equipamento, computadores, notebooks e tablets. Temos outra mochila que é só de roupa, de verão e de frio. Tem que lavar as peças dentro da semana senão no final de semana você já não tem mais roupa limpa. Alugamos sempre locais que tenham máquina de lavar ou lavanderia próxima.
Suzi: Uma maneira legal de organizar é você separar roupas para cinco a sete dias. São sete mudas de roupas, digamos. Uma calça você pode usar de dois a três dias, daí intercala com outra. Então são duas calças — uma jeans — e cinco camisetas. Daí você usa elas e tem que lavar obrigatoriamente no sexto ou no sétimo dia, para daí começar tudo de novo. Foi um exercício, mas está sendo gratificante.
Michel: Antes eu tinha sete pares de tênis, hoje eu tenho um.
Suzi: Eu trago um tênis, uma bota de frio e um chinelo. Você aprende a desapegar.
Vocês se hospedam onde?
Suzi: Escolhemos, geralmente, "Airbnbs", porque eles têm uma infraestrutura melhor com wi-fi e mesa de trabalho. Não ficamos em hostel por segurança, porque teríamos que compartilhar quarto com outras pessoas.
Michel: É como se estivéssemos na nossa casa mesmo, porque temos cozinha e banheiro. Nesse momento, temos acesso à piscina, à academia. Normalmente, a internet do Airbnb já é preparada para você trabalhar, é em alta velocidade. A do hotel não é tão veloz assim. Quando você reserva, pode colocar no filtro um imóvel que tenha máquina de lavar, cozinha, internet de alta velocidade...
Suzi: Quando você aluga por mais de 28 dias, tem descontos para longo período.
Vocês usam o transporte público local ou alugam carro?
Michel: Na maioria das vezes, alugamos carro. Aqui nos Estados Unidos, estamos com carro todo o período. Nos demais países, somente no final de semana. Em dias de semana, usamos aplicativo, que no Exterior é mais seguro do que o táxi. O transporte público às vezes tem que esperar uma hora fazer uma viagem, você acaba perdendo algumas horas do dia.
Vocês têm trabalhos que permitiram esse afastamento mantendo esse vínculo. Ao mesmo tempo, imagino que vocês ganhem em reais. Como faz?
Suzi: Um cálculo que fizemos foi que morávamos em uma casa muito grande, pagávamos aluguel e tínhamos os dois carros. Viajávamos todos os finais de semana para passear. Então, ficou equivalente. Durante a semana, fazemos compra no mercado para comer em casa. Se o lugar é perto, vamos a pé mesmo.
Michel: Depende muito do seu padrão. Por exemplo, a gente conhece vários nômades. Alguns viajam mais no estilo low cost (baixo custo), ficando em hostel, pegando Airbnbs extremamente pequenos. O que acaba ficando caro é a passagem. Temos uns truques também, aprendemos sobre milhas. Viajar no Exterior costuma ser mais barato do que viajar no Brasil. Aqui nos Estados Unidos, por exemplo, se eu quiser ir de avião de ponta a ponta do país, chego a pagar US$ 20 na passagem. É muito barato. Hoje um preço de um bom Airbnb parte de R$ 5 mil e vai a R$ 10 mil por mês para 30 dias. Mas amigos meus viajam em Airbnbs de R$ 2 mil, R$ 3 mil. Ficam em um bairro um pouco mais afastado ou com uma estrutura um pouco diferente. Ao longo da semana, gostamos de viver como local. Ir no supermercado junto com eles, fazer comida típica. Mas no final de semana, passeamos e vamos a restaurantes. O Brasil está com a moeda muito fraca, principalmente por estarmos em local de dólar. Tudo aqui é vezes 5,5 ou 5,6. Tem que ter uma atenção. Se você quer viajar mais low cost, vá para países com moedas mais fracas, como Argentina e Peru. Lá, você vive muito bem com o real.
Suzi: Na Argentina, você vive como um rei, é surreal.
Michel: Lá você pega um Airbnb maravilhoso lá por R$ 3 mil, que você pagaria nos Estados Unidos uns R$ 13 mil a R$ 15 mi. Depende muito do país, sabe? Mas para você viajar a low cost, você vai gastar em média de R$ 8 mil a R$ 10 mil por mês. Para viajar em uma classe intermediária, você vai gastar de R$ 15 mil a R$ 20 mil. E para você viajar em um alto nível, estar sempre com carro, você vai gastar um pouco mais de R$ 20 mil a R$ 30 mil por mês, chegando até a R$ 40 mil. Tem para todos os bolsos. Vai depender com o que você trabalha e como você quer fazer esse tipo de viagem. A gente até gostaria de fazer algo um pouco mais aventura, mas para nós, devido ao trabalho, acabamos não conseguindo.
Suzi: Tem, também, oportunidades. Alguns pontos turísticos nos finais de semana são gratuitos aos domingos, por exemplo, então deixamos para ir nesses dias. Algumas atrações que o pessoal geralmente fala que é "imperdível", olhamos e pensamos se vale mesmo a pena pagar por isso. Em Las Vegas, tinha um preço meio absurdo para subir e ter uma visão da cidade, mas estavam exagerando. Não dá pra conhecer 100% dos lugares, mas conseguimos passear bastante, fazendo esse equilíbrio de não gastar tanto e viver bem. O conforto que a gente precisa durante a semana é dormir bem e trabalhar bem. A gente trabalha muito.
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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