Contrariando o senso comum, mas sem surpreender quem acompanhava as apostas do mercado financeiro, a bolsa de valores subiu e o dólar caiu nos dois primeiros dias após a vitória de Lula. Mesmo que o meio do pregão seja repleto de oscilações, o fechamento tem sido positivo. O movimento ocorreu mesmo com o receio de que o presidente Jair Bolsonaro viesse a contestar o resultado da eleição, gerando crise política e provocando o que vinha sendo chamado de “terceiro turno”.
Mas vamos ao que explica esse bom humor que predomina na volatilidade? Segundo especialistas ouvidos pela coluna, vai da segurança de saber finalmente o resultado de uma eleição acirrada até o investidor já ter “precificado” os ativos considerando este cenário.
— Os participantes do mercado não deixaram para tomar suas decisões em relação às eleições exclusivamente na segunda-feira seguinte. Os preços dos juros futuros, das ações e do dólar já representavam a percepção até então — explica Wagner Salaverry, sócio da gestora de fundos Quantitas.
Para Bruno Madruga, diretor de renda variável da Monte Bravo Investimentos, os bons desempenhos das empresas, que estão divulgado os resultados do terceiro trimestre, e o aporte estrangeiro também ajudam a explicar a alta do Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas da B3, a bolsa de valores de São Paulo. Ele destaca ainda que o país tem atualmente um bom retorno de juros real (a diferença entre a taxa Selic e a inflação) para os investimentos, se destacando entre os emergentes. E a coluna lembra que a Rússia, outro mercado do tipo para onde vai o “dinheiro gringo”, segue em guerra.
— Além de não ter alternativa entre os emergentes, acabou a dúvida de quem efetivamente seria o presidente brasileiro. Definição e segurança são boas para a renda variável. A bolsa de valores se beneficiou — reforça Madruga.
Não ter ocorrido algo inesperado, já que havia este receio, foi essencial, concorda Eduardo Grübler, gestor de renda variável da Warren. Afinal, investidor gosta de previsibilidade. Se ele temia surpresas negativas e elas acabam não ocorrendo, ele distensiona e cresce seu apetite pelo risco.
Mas que vem por aí? Vamos na mesma tecla que batemos há dias: a definição da equipe econômica do futuro presidente será fundamental.
— O mercado reagirá (bem ou mal) aos nomes da equipe econômica, dos demais ministérios, à relação do governo com o Congresso, ao comportamento do Banco Central na inflação e nos juros, e a uma série de outros fatores, como preços de commodities, juros nas demais economias, riscos de conflitos — comenta Salaverry.
A independência do Banco Central, pelo menos nos próximos dois anos em que ficará sob o comando de Roberto Campos Neto, é ponto positivo para o início do terceiro governo de Lula.
— Como o Banco Central está sem interferência política e está fazendo o papel de controle da inflação, a expectativa é de que a taxa de juros recue já no primeiro semestre de 2023, independente da política brasileira. O Brasil será beneficiado, principalmente os ativos de renda variável, que voltarão a receber o capital que foi para a renda fixa — fala Madruga.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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