Prestes a completar 70 anos e ainda sob comando familiar, a Orquídea está tirando do papel um investimento de R$ 120 milhões. O valor será usado para duplicar a fabricação de biscoitos em geral; ampliar a produção das marcas Bon Gouter e Mini Oreo; e turbinar o projeto Eco, que criou tigelas feitas de farelo de trigo, que é resíduo da produção. A atividade mais antiga da empresa são os moinhos de farinha. Parte é para o uso próprio, mas uma grande quantidade é vendida. Depois, entrou na fabricação de massas e, mais recentemente, de biscoitos. A empresa emprega 1.050 pessoas e pretende atingir, em 2022, faturamento de R$ 1,1 bilhão. A ideia é aumentar em 60% esse número até 2025.
A coluna esteve na fábrica da Orquídea Alimentos para conhecer o projeto de expansão em primeira mão. Com a liberação da licença ambiental, a preparação do terreno já foi iniciada. A operação começa no segundo semestre de 2023. Já foram comprados os equipamentos. A fábrica de 46 mil metros quadrados ganhará mais 10 mil metros quadrados.
Abaixo, trechos da entrevista com o diretor-superintendente Rogério Tondo e o áudio na íntegra está no final da coluna.
Como será distribuído o investimento?
Basicamente, na duplicação da fábrica de biscoito e no projeto do Eco Prato, que a gente quer escalar, porque atualmente, não tem o custo competitivo. E o terceiro investimento é na ampliação produção do Mini Oreo e do Bon Gouter, que a gente terceiriza para a Mondelez.
Qual o tamanho da ampliação?
Em torno de 25% de aumento da estrutura física, o que se reflete também na produção. Nós vamos duplicar. Teremos muita produtividade e redução de custo.
Para novos mercados ou para atender os que já tem?
Praticamente, para os atuais mercados. Queremos atender melhor, com inovações que possam realmente ser um diferencial do nosso produto.
Foco em biscoitos?
Sim, a maior parte é para ampliação do setor de biscoitos, que ainda é uma parte menor do nosso faturamento e que vai ser mais representativo no futuro. Queremos pegar as oportunidades que o segmento tem. Sem perder, é claro, a essência do nosso negócio, que foi farinha e outros derivados de trigo.
Da farinha que produzem, consomem quanto?
Na unidade de Caxias do Sul, praticamente 100% do que produzimos é destinado para farinha, massa, biscoito e para extrusão de cereais. Agora, na unidade de Bento Gonçalves, 100% dela vai para indústrias. Se somar tudo, 30% da farinha vai para o setor B2B (de empresa para empresa).
Além das unidades de Caxias e Bento, o que mais a empresa tem?
Temos centros de distribuição em Garibaldi (RS), Itajaí (SC), Curitiba (PR) e Guarulhos (SP).
Vocês vendem para onde?
Na medida em que estamos mais perto de casa, somos mais fortes. No Rio Grande do Sul, naturalmente, temos uma presença muito forte, e também estamos avançando para Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Vendemos também para Minas Gerais, Rio de Janeiro, mas a maior intensidade mesmo, no Sudeste, é em São Paulo.
Para quais marcas produzem além da própria?
A Mondelez, principalmente, mas fabricamos farinha de trigo para Nestlé, Bauducco e Aryzta, que é uma grande fabricante de pães para o McDonald's.
Como escalar o projeto Eco, que já noticiamos na coluna que produz tigelas a partir do resíduo de trigo?
Hoje, 25% do grão de trigo é destinado à alimentação animal. Tem preço baixo de mercado. Procuramos alguma novidade que possa ressignificá-lo. O Eco Prato parte do pressuposto de que a matéria-prima, que é o farelo, custa R$ 1 mil a tonelada, e o plástico que estamos olhando para ser substituído custa R$ 6 mil. Nosso desafio é fazer com que a escala seja competitiva em termos de produção. É uma avenida bem grande, para ser bem explorada.
Quantos empregos vocês geram hoje?
São 1.050 pessoas. Dessas, 650 no parque fabril, e o restante em contato com clientes, como representantes, vendedores, promotores ou pessoas que alavancam as vendas.
Vamos falar sobre conjuntura, como presidente do conselho da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). O trigo gaúcho melhorou de qualidade e terá safra recorde. Pode ter alívio de preços ao consumidor?
Eu acho que sim, porque aquele estresse que houve em função da guerra na Ucrânia fez com que Brasil inteiro ficasse com medo que faltasse trigo. O grosso da produção do Rio Grande do Sul foi para exportação. Isso gerou um pânico no mercado, que temia falta. Todos os moinhos começaram a comprar, inflacionou, chegando a preços históricos. Com a safra que vem em outubro e novembro, é natural que acalme um pouquinho, o que vai dar alívio para o consumidor. Mas não vemos que os preços vão voltar ao que eram antes da pandemia, porque a inflação, de uma forma geral, já chegou a toda a cadeia.
Vocês preveem uma crise mundial de alimentos?
Essa crise está distante da falta. Talvez, o que teremos são alimentos mais caros, mas o que mais impacta a volatilidade de preços é clima. A Argentina está sofrendo uma seca muito grande, que vai derrubar o trigo e pode chegar a outras culturas. O câmbio influencia, sobretudo o Brasil. É muito ruim de administrar. Ainda falta também clareza quanto ao fim da guerra na Ucrânia.
Ouça a entrevista na íntegra ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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