Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA) e da rede de lojas Elevato, Irio Piva sente "na pele" da empresa que comanda o problema que atinge todo o setor: inflação, falta de contêineres e disparada de preços nos fretes. Na entrevista do executivo - reeleito na entidade para o biênio 2022/2023 - ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, a coluna perguntou mais sobre o assunto:
Na maior parte das vezes, a inflação não nasce na prateleira. Como lidam com os desafios de alta de custos, energia elétrica, frete marítimo, impacto da inflação na renda das pessoas? Pergunto como empresário e líder lojista.
Realmente, é um desafio muito grande. O problema do frete marítimo começou com a falta de contêineres. Por quê? No primeiro momento da pandemia, houve uma redução grande no volume tanto de importação quanto de exportação, e aí os contêineres ficaram parados em algum lugar do mundo. Depois, teve problemas, por exemplo, na China. Dava um problema de contaminação, o porto fechava por 14 dias. Isso causa problema como em uma malha aérea. O navio tem que evitar aquele porto, a mercadoria ficava parada. Então, começou uma série de atividades que foram complicando a situação. Depois, o volume de negociação internacional começou a crescer e a falta de navios e contêineres criou um problema muito sério. Para terem uma noção, nós somos importadores e pagávamos entre US$ 1 mil e U$ 1,5 mil um contêiner para trazer produto da China ao Brasil. Eu estou trazendo nesta semana alguns contêineres pagando US$ 12,1 mil pelo frete marítimo da China até o Brasil.
O varejo importa, mas exportadores também sofrem...
Eu acredito, inclusive, que isso está interferindo — porque não é um problema do Brasil, é um problema mundial — e criando uma inflação no mundo inteiro. O custo subiu para importar e para exportar. Muitas vezes, alguém está comprando uma camisa, vê que ela é produzida aqui no Brasil, mas o tecido foi trazido de outro lugar, atrasou para chegar. Aparentemente, imaginamos que não está sendo impactado, mas está de alguma maneira. É um desafio realmente grande. Precisamos nos mobilizar e encontrar um jeito. Acho que passa um pouquinho também por uma sensibilidade dos grandes armadores, porque o custo deles também não subiu dessa maneira. Certamente, poderia se trabalhar com o custo de frete mais acessíveis. Eu não posso fazer nenhum tipo de acusação, mas as grandes companhias marítimas estão se aproveitando um pouquinho para aumentar preços de maneira muito abusiva, causando um impacto global.
Há um movimento de trazer a produção para cá, inclusive provocado por varejistas. A ideia é não depender tanto do Exterior e não sofrer novamente com essas travas, essa ruptura na cadeia global de suprimentos.
Eu considero isso muito importante. Sempre digo que o sucesso não ensina nada para a gente. O que ensina é o fracasso. Às vezes, precisamos passar por um momento desse exatamente pra entender que o Brasil precisa ser reindustrializado. Muitas vezes, por uma questão de facilidade, os preços lá fora eram mais baratos, a indústria aqui deixou de produzir para importar produtos porque era mais vantajoso, mas não podemos abrir mão de ter a nossa própria indústria, de produzir aqui. Nós, varejistas, temos que apoiar muito o produto local. O que acontece é que determinados produtos, às vezes, o Brasil não produz. Vimos na indústria automobilística, por exemplo. Os chips causaram um problema muito grande de produção exatamente porque não temos produção aqui, e também não tem em outros lugares do mundo. É uma iniciativa que tem que ser da indústria, do consumidor e do próprio varejista de apoiar aquilo que é produzido aqui no Brasil. É uma das maneiras de reduzir a dependência e resolver, nesses momentos, o problema de inflação que estamos vivendo aqui no Brasil e no mundo todo em função da dependência que cada país tem em relação a outro para poder ou consumir ou até para produzir. Muitas vezes, aquilo que vem não é o produto todo, é a parte de um produto.
Ouça a entrevista completa para a rádio Gaúcha:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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