A inflação veio acima do esperado pelo mercado. O IPCA ficou em 0,87% em agosto, o maior em 21 anos para o mês. Até desacelerou na comparação com julho, mas lembre-se que aquele mês teve o impacto do reajuste da bandeira na conta de luz. Aliás, tem novo aumento valendo para setembro já e que aparecerá nos próximos indicadores de inflação. O acumulado de 12 meses da subiu para +9,68%, que é quase o triplo da meta do governo federal para a inflação deste ano, de +3,75%.
Na avaliação do mercado, o Banco Central terá um trabalhão ainda maior do que o previsto. Isso significa que a autoridade monetária vai acelerar a alta da taxa de juro Selic, ferramenta usada para controle de inflação. O Ibovespa está sentindo hoje, operando em queda e perdendo o patamar dos 113 mil pontos.
De imediato, as instituições financeiras estão revisando suas projeções para a inflação do fechamento de 2021, reduzindo a previsão de crescimento do PIB e, por consequência, elevando a aposta para a Selic. Esse choque de juros pode elevar a taxa referência da economia brasileira rapidamente dos atuais 5,25% para 10%. A Ativa Investimentos acredita que isso ocorra no início de 2022. Já a Quantitas Asset prevê esse patamar no fechamento do ciclo de altas, em março do ano que vem.
- Alguns podem argumentar que a inflação é passado, mas observamos no IPCA dos últimos meses que a dinâmica dos preços está muito pior. Isso naturalmente vai contaminando as expectativas dos agentes. O qualitativo do IPCA foi bem ruim: serviços subindo, núcleos subindo... A difusão nem piorou, mas está em um nível ruim. Os bens que supostamente deveriam começar a recuar continuam acelerando. E acreditamos que a crise política terá repercussão fiscal. Dificilmente teremos grandes melhoras no câmbio que poderiam ajudar a inflação do ano que vem. O jogo está mais difícil, mais ruidoso. Isso carrega o prêmio de risco para cima. Na melhor das hipóteses, até o final do ano, se resolve a questão dos precatórios, se aumenta o Bolsa Família anunciado. Na pior, vai ter que furar o teto de gastos. A consequência disso tudo é um PIB um pouco menor - diz o economista-chefe da Quantitas Ivo Chermont.
E um ponto curioso, se a Selic passar de 8,5%, volta a regra antiga da remuneração da poupança. A caderneta passa a pagar 0,5% ao mês mais TR, ficando em, no mínimo, 6% ao ano. É bem maior do que agora, quando rende 70% da Selic, mas ainda abaixo da inflação. Também não é de se comemorar uma economia com juros mais altos, que encarecem crédito e travam a economia. Sem falar que são motivados por uma inflação alta.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Francine Silva (francine.silva@rdgaucha.com.br)
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