Um dia antes do vencimento, os contratos de petróleo para maio "negativaram". Após despencarem ao longo desta segunda-feira (20), ficaram negativos no início da tarde, em até - US$ 7 e fecharam em - US$ 37,63. São derivativos do petróleo WTI, negociado em Nova York.
Isso se deve à previsão de que a demanda continuará despencando. A pandemia provoca desaceleração e talvez até queda da economia mundial, o que desmancha o consumo de combustíveis.
- Quando fica negativo, o dono do contrato está pagando para o consumidor levar o petróleo embora. Isso porque não tem como armazenar ou tem o custo de estoque - complementa o economista da Quantitas Asset, João Fernandes.
Ele pondera que isso está ocorrendo em regiões mais afetadas dos Estados Unidos e com determinados produtores. Ainda assim, é a maior queda histórica e o preço ficou no negativo de forma bastante intensa. Ou seja, chama a atenção e preocupa. Por mais que a pressão seja pela véspera do vencimento do contrato, sinaliza a tendência para os demais preços.
Já para junho, o contrato futuro de petróleo WTI ainda gira em torno US$ 21 para venda. Bem mais alto, mas com uma queda significativa em relação à semana passada, quando estava em US$ 29. E um recuo que se acentua.
Já o petróleo Brent está a US$ 26. Há uma semana, era negociado em US$ 33. Ou seja, em queda também. É a referência para os mercados europeu e asiático.
Com a desaceleração da economia global e disputa entre países produtores, o tombo no preço internacional do petróleo abriu espaço para a redução dos preços dos combustíveis nas refinarias. No final de semana anterior a esse último, 23 países fizeram um acordo para reduzir a produção e tentar segurar os preços. Mas não foi suficiente, já que as estimativas de queda no consumo mundial são mais intensas. Enquanto isso, a cotação segue em queda livre.
Petrobras
No dia em que o petróleo acentua a queda no mercado internacional, a Petrobras anuncia um novo corte nos preços dos combustíveis nas refinarias, onde é a estatal que define valores. As reduções valerão a partir desta terça-feira (21).
No caso da gasolina, o corte é de 8%, o que significa sete centavos aproximadamente. Já para o diesel, a diminuição será de 4%, ou seja, cerca de cinco centavos. São valores para a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas. Os preços diferem conforme a refinaria.
O economista João Fernandes vê espaço para a Petrobras cortar a gasolina em mais 15%. Isso, considerando o ritmo de queda do petróleo.
Nas bombas
Após mais uma queda na gasolina comum, o Rio Grande do Sul está com o preço médio mais baixo desde novembro de 2017. A última pesquisa semanal da Agência Nacional do Petróleo (ANP) trouxe o litro custando R$ 4,16. Na semana anterior, estava em R$ 4,20 e, há um mês, em R$ 4,45.
Os preços encontrados no Rio Grande do Sul variam de R$ 3,59 a R$ 4,99. O menor, em Novo Hamburgo, e o maior, em Bagé. Em Porto Alegre, o preço médio também cai. Na última pesquisa, ficou em R$ 4, com postos cobrando de R$ 3,85 a R$ 4,26.
Ainda há espaço para novos cortes. O consumo caiu e, como petróleo recuando desse jeito, a Petrobras segue anunciando novas reduções nas refinarias. Além disso, a Receita Estadual reduziu o preço sobre o qual calcula os 30% do ICMS da gasolina, mas, sempre com um atraso, está em R$ 4,42 e terá que cair mais. O governo gaúcho usa uma média de notas fiscais de postos que é semelhante à ANP.
Cautela ao comemorar
Desde que a Petrobras mudou sua política de preços da gasolina e do diesel, o brasileiro tem aprendido a associar as quedas e altas do petróleo no mercado internacional a repasses para as bombas. Com o avanço do coronavírus, a economia global dá sinais de recessão, o que reduz o consumo de combustíveis e provoca queda no preço do "ouro negro".
É de comemorar a queda na gasolina? Infelizmente, não. Há outras implicações fortes dessa tensão política e econômica, sem contar que o avanço do coronavírus gera preocupação social, além de elevação de gastos. A redução no preço dos combustíveis por esses motivos não é saudável.
Como exportadora, o caixa da Petrobras sofre com a queda brusca no preço do petróleo. Lembrando que a empresa é uma das maiores do Brasil, movimenta cadeias econômicas inteiras e tem muitos acionistas, inclusive os pequenos que aplicaram nela seu FGTS. Químico industrial, Marcelo Gauto ainda projeta efeitos de prazo mais longo. A queda brusca no preço do petróleo provoca um efeito rebote.
— Alguns produtores reduzem investimentos e a produção começa a declinar. Os preços sobem por essa redução, algo que demora a se recuperar. Quanto mais longa for essa redução de preços, mais grave pode ser o efeito lá adiante — diz ele.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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