A gestora de fundos Austro Capital enviou para a coluna Acerto de Contas um gráfico mostrando a valorização das ações preferenciais do Banrisul vendidas pelo Governo do Estado. O leilão foi realizado em 10 de abril e arrecadou R$ 485 milhões para os cofres públicos.
Segundo o gestor de renda variável da Austro, Rafael Weber, a valorização bruta foi de 9%:
— Descontanto o Imposto de Renda pelo ganho de capital, seria equivalente a 7,7% de retorno líquido considerando a compra das ações no dia do leilão e usando como referência o preço de cotação de fechamento da última sexta-feira. Esse ganho está superior à taxa de juros anual atualmente vigente no Brasil. Também é praticamente tirar, em três semanas, o dobro do que a caderneta de poupança paga em um ano para quem deixa o dinheiro aplicado.
Weber provocou a coluna com a informação e mais algumas observações curiosas. Segue um trecho da conversa:
Coluna Acerto de Contas - Considerando que este dinheiro foi usado para pagar a folha do funcionalismo, o governo não perdeu com a operação?
Rafael Weber - É uma colocação simplista, binária, de uma parte do mercado que diz: se o Governo do Estado vendeu ações agora do Banrisul e não privatizou o banco, então ele perdeu. Há oito anos, o Governo Federal vendeu parte de suas ações do Banco do Brasil e na época trouxe um enorme aumento de liquidez para os papéis. Posteriormente, isso abriu a porta das ações do BB ao “novo mercado da Bovespa” e gerou um ganho em valor de mercado importante ao banco. No Brasil, em razão das crises cíclicas, a capacidade de um ativo de possuir alta liquidez é muito valorizada pelos investidores locais e estrangeiros, isso aumenta o valor de mercado do ativo. A entrada de novos acionistas, com o aumento da liquidez das ações, contribuirá também com esforços de maior profissionalização no conselho de administração do banco e acompanhamento vigilante de um maior número de investidores, fomentando melhorias na governança corporativa do banco e na geração de valor de forma sustentável. Logo, isso ajuda trazendo mais valorização às ações que permanecem em poder do Governo do Estado.
Coluna - Vários agentes do mercado têm criticado o Banrisul, o uso do banco na crise das finanças públicas, empréstimos para servidores, os anúncios e "desanúncios" de vendas de ações pelo governo... Mas vocês apostam no banco, indicam para clientes e até criaram um fundo com foco na compra de papéis do banco.
Weber - Parece que “mercado que critica” está bem localizado no Rio Grande do Sul e é uma minoria dos participantes do mercado. Nós falamos com grandes investidores do Rio, São Paulo, estrangeiros e essas colocações de que o Banrisul não tem “valor” e “sofre muita ingerência do controlador” são fortemente contraditórias na visão deles. O primeiro movimento do governo, de vender em oferta pública em outubro de 2017, foi mal formatado, pois gerou uma pressão para baixo no preço das ações muito forte. Já essa recente venda das ações nos pareceu muito melhor estruturada e bem conduzida. Nós investimos nas ações do Banrisul porque temos uma visão de longo prazo construtiva para o negócio e entendemos que elas estão com preço atrativo hoje. O banco é a “jóia da coroa” dos bancos regionais ainda existentes no Brasil. Percebemos avanços importantes dentro do Banrisul para destravar valor, melhorar eficiência e elevar o retorno sobre o capital. Os executivos do banco estão fazendo um bom trabalho, pois ele saiu fortalecido da recessão econômica recente e também já voltou a pagar dividendos atrativos. Algumas melhorias em curso são estruturantes dentro do Banrisul, vieram para ficar e não acreditamos que as trocas de governo sejam capazes de revertê-las. A sociedade como um todo já não tolera mais estatais mal geridas e os políticos já entenderam esse recado.
Coluna - E quais as apostas de vocês para o IPO da Banrisul Cartões?
Weber - Estamos otimistas que as ações da “Vero” serão bem avaliadas pelo mercado no IPO. A Banrisul Cartões possui uma “avenida de crescimento” dentro do setor onde atua. Enxergamos ganhos de escala importantes com o movimento de expansão nacional da marca, construção de parcerias estratégicas com outros elos existentes dentro da estrutura de adquirência, que são os meios de pagamento, e um potencial de aumentar o “cross selling” dentro da base de clientes do próprio Banrisul.
Coluna - Podemos esperar também um IPO do braço do Banrisul em seguros?
Weber - Faria sentido, sim. O mercado de seguros no Brasil possui potencial enorme de crescimento dada a baixa exposição de seguros per capita. O valor de franquia da “Rio Grande Seguradora” é outro diferencial a ser mais explorado localmente. Há cinco anos, o próprio Banco do Brasil abriu o capital da BB Seguridade e foi um grande sucesso. A parceria da Banrisul Seguradora com a Icatu Seguros foi o primeiro passo, aumentando o protagonismo da operação de seguros dentro do banco. A listagem da empresa na Bovespa poderá promover a correta precificação do negócio e consequentemente elevar o valor da parcela do capital detida pelo Banrisul e seus acionistas.