Leitores perguntam. Lado Natureba responde.
Pergunta que recebemos muito aqui, além de vermos com muita frequência pela vida e pelas redes sociais:
Pediatra mandou fazer a Introdução Alimentar antes dos seis meses do bebê. Organizações de saúde dizem que não. O que faço?
Confira a opinião de especialistas, colocados aqui em ordem alfabética, já que sabemos que o tema é bem polêmico:
Cristina Machado, consultora em amamentação, bióloga e doutora em Ciências. Autora da página Plantão Materno:
Eu trocaria de pediatra! Seguindo as recomendações do manual de nutrologia do Ministério da Saúde, quando não é possível o aleitamento materno exclusivo até seis meses, ele deve continuar sendo aleitamento misto (peito e fórmula) até os seis meses também. Pediatras antecipam a Introdução Alimentar por algumas questões como alto custo do leite artificial. Então, surge a ideia de que é melhor para mães pobres dar batata e cenoura que leite de saquinho. Alguns estudos mostravam uma janela imunológica dos quatro aos seis meses, mas esse estudo não foi feito com bebês amamentados exclusivamente. Há muito desconhecimento. Pediatras nem deveriam prescrever a Introdução Alimentar. O Manual de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria diz que a IA tem que ser feita a partir dos seis meses, atendendo ao desenvolvimento neuropsicomotor do lactente. Nesta idade, a maioria das crianças atinge estágio de desenvolvimento com maturidade fisiológica e neurológica e atenuação do reflexo de protrusão da língua, o que facilita a ingestão de alimentos semissólidos. As enzimas digestivas são produzidas em quantidades suficientes, razão que habilita as crianças a receberem outros alimentos além do leite materno. Está no material de saúde da criança do Ministério da Saúde a recomendação de introduzir alimentos somente após os seis meses. Não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos seis meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança, pois a introdução precoce de outros alimentos está associada a:
• Maior número de episódios de diarréia.
• Maior número de hospitalizações por doença respiratória.
• Risco de desnutrição se os alimentos introduzidos forem nutricionalmente inferiores ao leite materno, como, por exemplo, quando os alimentos são muito diluídos.
• Menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como o ferro e o zinco.
• Menor eficácia da amamentação como método anticoncepcional.
• Menor duração do aleitamento materno.
Cristina Targa Ferreira, presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul:
Não está errado introduzir com quatro meses e nem com seis meses. Mas não se deve retardar mais do que seis meses a introdução alimentar. Começar com frutas no lanche da manhã e, quando estiver aceitando, começar legumes no almoço (papa salgada). Com oito e nove meses, já comer dois lanches de frutas (manhã e tarde) e almoço e jantar (papa salgada). O importante é não dar “outras coisas”, como industrializados, no primeiro ano de vida. Só dê comidas saudáveis. E não retardar demais a introdução alimentar, pois só o leite não é suficiente após os seis meses. Outra coisa importante: é para dar frutas e não sucos. A fruta é dada de colher, raspada. A fruta tem fibras e menos açúcar (frutose) do que os sucos. E não compete com a mamada.
Fabíola Frezza Andriola, nutricionista infantil especialista em Comportamento Alimentar. Tem o site Introdução Alimentar:
Esta orientação é mais comum do que parece! Mesmo que esperar os seis meses seja a recomendação da Organização Mundial da Saúde e Sociedade Brasileira de Pediatria. Está no próprio manual deles… Não há benefício algum começar a Introdução Alimentar antes dos seis meses. Mas… As desculpas são mil… Por exemplo, a volta ao trabalho. Deveriam, então, ensinar como ordenhar e estocar o leite, indicar uma nutricionista especializada ou consultora em amamentação. Outra desculpa: bebê não ganha peso. Gente! Nada é mais completo do que o leite materno. Como uma banana será mais completa? Minha dica: informe-se! Empodere-se e acredite em si mesma, mamãe! É possível sim voltar a trabalhar e manter o aleitamento. Até mesmo na impossibilidade de ordenhar, melhor uma boa fórmula do que comidinha Dificilmente um bebê senta sozinho e sem apoio antes dos seis meses e esse é o principal sinal de estar pronto para iniciar a introdução alimentar.
Flávio Melo, pediatra especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria e membro da Associação Brasileira de Nutrologia. Tem o site Pediatria do Futuro:
Caso a sua licença seja de seis meses, em concordância com o pediatra, você poderá começar a testar alimentação sólida (frutas, palitinho de legumes, procurem BLW – Baby Led Weaning em inglês ou Desmame Orientado pelo Bebê) 15 dias antes e dessa forma permitir que ele se alimente no intervalo antes do almoço e à tarde. Se sua licença for de quatro meses, use o atestado de mais 15 dias do pediatra (não precisa ser doente para necessitar do aleitamento). Após isso, use o direito de uma hora a mais de intervalo. Dependendo da situação, seria melhor iniciar introdução alimentar mais cedo do que substituí-la integralmente por fórmula. Já existem estudos que não demonstram nenhum problema em iniciar IA entre os quatro e seis meses, nessas condições acima, a critério do médico acompanhante.